Destituído do poder há três dias, Fernando Lugo, ex-presidente do Paraguai, instaurou hoje (25) um governo paralelo batizado por ele como Gabinete de Restauração da Democracia, cuja sede é a sua casa, em Lambaré, nos arredores de Assunção, capital paraguaia. Lugo disse que seus ministros vão fiscalizar a equipe do atual presidente paraguaio, Federico Franco.
"Os ministros [do governo paralelo] se converterão em fiscais e vão monitorar todas as instâncias do governo [de Federico Franco]", disse Lugo, em entrevista coletiva, concedida depois da primeira reunião do governo paralelo marcada para começar às 6h. Duas horas depois, Franco empossou os novos ministros do seu governo.
Participaram da reunião ex-ministros, ex-colaboradores e alguns parlamentares. Paralelamente, senadores e deputados aliados do ex-presidente articulam uma ação para reverter o atual quadro político paraguaio na tentativa de que Lugo tenha condições de voltar ao poder. Mas analistas políticos do país consideram a hipótese pouco provável.
Ao ser perguntado sobre a suspensão do Paraguai do Mercosul, Lugo disse que quer ter espaço na cúpula do bloco, nos dias 28 e 29, em Mendoza, na Argentina, para sua defesa. Ele lembrou que o ex-presidente Manuel Zelaya, de Honduras, obteve espaço na comunidade internacional, quando foi destituído do poder, em 2009.
Para o Mercosul e a União das Nações Sul-Americanas (Unasul), o processo de impeachment contra Lugo, concluído na sexta-feira (22), transcorreu sem espaço para a ampla defesa do ex-presidente, ameaçando a democracia e instituições do país. Lugo reiterou o argumento, destacando que não lhe deram condições para se defender. O processo de impeachment foi concluído em 24 horas.
Perguntado se aceita o convite de Franco para ser uma espécie de mediador nas negociações internacionais do Paraguai com o restante do mundo, Lugo demonstrou indignação com a proposta. "Federico Franco não tem autoridade como presidente para isso", disse, recusando-se a chamar o atual chefe de Estado de presidente.