O líder radical Moqtada al-Sadr, férreo opositor à presença de forças estrangeiras no Iraque, mostrou esta semana que tem um peso considerável na vida política do país, ao restabelecer a calma após os violentos confrontos de quinta-feira entre xiitas.
O clérigo xiita pediu calma aos partidários e eximiu de responsabilidade pelos confrontos o Conselho Supremo da Revolução Islâmica no Iraque, um dos pilares xiitas do governo iraquiano. ''Peço aos fiéis que preservem o sangue dos muçulmanos e permaneçam em casa'', disse al-Sadr. O chamado foi imediatamente aceito, mostrando a disciplina de seus seguidores, principalmente a milícia Exército Mehdi.
Ao dirigir-se a simpatizantes na cidade sagrada xiita de Najaf, onde seu gabinete foi incendiado, Al-Sadr afirmou que a tensão é inútil no momento em que o Parlamento se prepara para aprovar uma Constituição, e reiterou que não acredita num processo político ''sob ocupação estrangeira''.
Em um sinal da influência de Al-Sadr sobre a comunidade xiita, majoritária no país, várias personalidades políticas, como o premier Ibrahim Jaafari, o presidente curdo do Iraque, Jalal Talabani, e o presidente sunita do Parlamento, Hajem al-Hassani, condenaram o incêndio em seu gabinete. Paralelamente, Al-Sadr manteve a pressão sobre o governo, ao mobilizar partidários para exigir uma melhora das condições de vida.
A oposição à presença estrangeira diferencia Al-Sadr de sua comunidade, uma vez que o governo, controlado por xiitas, pede que as forças internacionais permaneçam no país até que a situação se estabilize. Esta posição aproxima Al-Sadr dos sunitas, que incentivam a rebelião e transformaram a retirada das tropas estrangeiras em seu cavalho de batalha.
''As forças de ocupação tentam semear a divisão entre o povo iraquiano. Mas não há xiitas e sunitas, apenas iraquianos. Se as forças deixarem o Iraque, não haverá conflito étnico'', afirmou Al-Sadr em maio.
O clérigo recusou-se a participar das eleições de 30 de janeiro, mas não convocou um boicote às mesmas, para não desobedecer aos líderes religiosos xiitas, como o prestigioso aiatolá Ali Sistani. Ainda assim, respondem a ele no parlamento 20 legisladores eleitos por outros blocos e um delegado no comitê de redação da Constituição.
Após a queda de Saddam Hussein, em abril de 2003, milhares de jovens somaram-se às tropas de sayyed Moqtada al-Sadr (título concedido ao descendentes de Maomé), atraídos por seu discurso simples, salpicado de referências religiosas. Ele era considerado um herdeiro autêntico de seu pai, Mohammad Sadek al-Sadr, assassinado pelo regime de Saddam Hussein em 1999.
Al-Sadr rebelou-se contra as tropas americanas em março de 2004, e em agosto do mesmo ano foi cercado com seguidores em Najaf, até o aiatolá Sistani conseguir o levantamento do cerco e a partida do Exército Mehdi.