A Justiça britânica condenou nesta terça-feira (15) a oito anos de prisão uma adolescente pela morte, um ano e meio atrás, de uma jovem brasileira que se jogou de uma janela após "um prolongado período de agressões" em Londres.
Hatice Can, de 15 anos de idade, foi condenada por homicídio culposo pela morte, no dia 17 de maio de 2008, de Rosimeiri Boxall, uma jovem de origem brasileira que havia sido adotada quando garota por um missionário britânico.
A Justiça acatou a versão de que Rosimeiri pulou do terceiro andar de um edifício no sudeste de Londres para encerrar uma sessão de agressões físicas e verbais por parte de Hatice e Kemi Ajose, uma outra adolescente condenada a permanecer detida por tempo indeterminado em um hospital psiquiátrico.
Na época do incidente, Rosimeiri tinha 19 anos de idade, Kemi Ajose, 17, e Hatice Can, 13.
Horas antes de sua morte, durante uma discussão por causa de garotos que haviam conhecido na véspera, Rosi - como ela era chamada pelos pais - foi agredida a tapas e socos por Hatice e Kemi, que estavam sob efeito de vodca.
Ao anunciar a pena, o juiz Peter Thornton descreveu as agressoras como "covardes" e disse que o ataque foi um exemplo "cruel" e "abjeto" de intimidação. "Foi feio, maldoso e repetido", avaliou o juiz.
Morte
A brasileira havia sido abandonada pela mãe alcoólatra em um orfanato para crianças carentes no Rio de Janeiro, e adotada aos dois anos de idade pelo missionário Simon Boxall e sua esposa, Rachel, que viviam no Brasil.
Quando a família voltou para a Grã-Bretanha, em 2005, Rosi não conseguiu se adaptar e, em meio a uma tortuosa relação com os pais, saiu de casa.
Na época das intimidações, Rosimeiri se considerava amiga das duas agressoras. A morte dela ocorreu em uma quitinete onde Kemi vivia, no bairro de Blackheath, no sudeste de Londres.
Durante o processo, os promotores exibiram aos jurados imagens feitas em um telefone celular por outro residente do mesmo abrigo para jovens, no qual Kemi bate em Rosi e puxa o seu cabelo, enquanto Kemi ri.
Segundo eles, Kemi borrifou spray desodorante no rosto de Rosi e socou a cabeça da jovem, que permanecia sentada na cama, passivamente. Ela também teve a blusa rasgada por Hatice.
Segundo os promotores, as jovens ameaçaram forçar a brasileira a beber água sanitária.
"Rosi saltou para a morte com medo de mais violência", disse o promotor, Roger Smart. "Ela pulou da janela da cozinha para escapar de um período de abuso verbal e físico prolongado."
Segundo os relatos, quando Rosimeiri agonizava em decorrência dos ferimentos múltiplos que causariam sua morte, Hatice chegou a gritar "Bem feito, cadela!" para a vítima, jogando contra ela um telefone celular.
Condenações
O juiz que anunciou as condenações disse que só não deu uma pena maior para Hatice por causa da idade.
Ele acrescentou que manteria Kemi indefinidamente em um hospital psiquiátrico porque ela havia voltado a intimidar mulheres vulneráveis na prisão.
"Você tentou diversas vezes convencê-las a se enforcar com os lençóis das camas", acusou.
A família disse que "continua a rezar pelas responsáveis pela morte de Rosi".
"Queremos que elas saibam que nós as perdoamos. Isto não significa que o que elas fizeram não tem importância. Uma vida é tão valiosa que só Deus pode nos ensinar o seu valor", declarou o missionário Simon Boxall.
"Ninguém pode machucar (Rosi) agora", disse o religioso.