O pequeno município de Anguillara Veneta, no norte da Itália, aprovou na segunda-feira (25) a concessão de cidadania honorária para o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (sem partido).
A homenagem foi proposta pela prefeita de direita Alessandra Buoso - que justifica a medida pelo fato de um bisavô de Bolsonaro ter nascido na cidade - e recebeu nove votos a favor e três contrários na Câmara Municipal.
Por meio de um comunicado divulgado nas redes sociais pelo deputado ítalo-brasileiro Luis Roberto Lorenzato, do partido de ultradireita Liga, a prefeita diz que a ideia da cidadania honorária surgiu após ter sido "pavimentada a possibilidade de uma visita diplomática brasileira".
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"Sem nunca ter dado qualquer passo, fomos contatados por expoentes brasileiros dizendo que finalmente haviam chegado os resultados das pesquisas que confirmavam que o presidente é descendente direto de Anguillara. Pavimentada a possibilidade de uma visita diplomática brasileira, de comum acordo entre as partes, como sinal de reconhecimento, pensou-se em conferir a cidadania honorária", afirma a nota.
"A cidadania é conferida de fato ao presidente, como delegado de um povo e eleito democraticamente pelo povo que ele representa, mas é conferida simbolicamente a toda uma nação", acrescenta.
O comunicado ainda cita a "tradição emigrante" do povo do Vêneto, onde fica Anguillara. "O reconhecimento é para todas aquelas pessoas que deixaram sua terra natal. É um gesto simbólico de esperança para todos os povos que, todos os dias, são obrigados a migrar para outros países em busca de uma nova vida", ressalta.
A prefeita ainda se diz "profundamente perturbada" pelo fato de a homenagem ter sido "distorcida e manipulada para fins políticos". "Não queremos entrar nos aspectos políticos porque não é nosso papel nem nossa vontade, queremos apenas recordar que os laços entre essas duas nações são extremamente fortes", salienta o comunicado.
A sessão da Câmara Municipal para discutir a cidadania honorária havia sido convocada pela prefeita em 20 de outubro, mesmo dia da leitura do relatório da CPI da Covid no Senado Federal.
Além de crimes contra a humanidade, o pedido de indiciamento escrito pelo relator Renan Calheiros (MDB-AL) acusa o presidente de epidemia com resultado morte, infração de medida sanitária preventiva, charlatanismo, incitação ao crime, falsificação de documento particular, emprego irregular de verba pública e prevaricação.
Também enquadra Bolsonaro em dois crimes de responsabilidade: violação de direito social e incompatibilidade com dignidade, honra e decoro do cargo.
Críticas
O vereador de oposição Antonio Spada afirmou à Ansa que a homenagem a Bolsonaro representa um "prejuízo aos cidadãos de Anguillara e uma afronta às vítimas da pandemia de Covid no Brasil".
"Bolsonaro nunca promoveu a imagem de nossa cidade, mas está recebendo essa honraria apenas porque tem um bisavô nascido aqui. Rechaçamos a ideia de que Bolsonaro se torne modelo e exemplo para os cidadãos de Anguillara Veneta e o fato de essa escolha ser um ato imposto sem consultar a população", disse Spada.
Já o vereador Fabrizio Biancato, também de oposição, declarou que "não basta ter um bisavô de Anguillara Veneta para merecer a cidadania honorária".
"Por aquilo que [Bolsonaro] fez e está fazendo, estamos falando de uma pessoa que deve responder a acusações em tempos de pandemia e continua com uma política negacionista e contra a vacina, que sempre demonstrou falta de respeito pelas pessoas e pelo meio ambiente e que é artífice de escolhas que fizeram retornar o desespero e a fome no Brasil", salientou.
De acordo com o jornal Il Mattino di Padova, manifestantes protestaram do lado de fora da Câmara Municipal de Anguillara durante a votação sobre a cidadania honorária com bandeiras do Brasil e cartazes de "vergonha".