Preso na semana passada no aeroporto internacional de Lima, no Peru, por envolvimento em um caso de corrupção envolvendo a Odebrecht e autoridades peruanas, o empresário israelense Gil Shavit declarou à Justiça que o governador de Callao, Félix Moreno, incumbiu o publicitário franco-argentino Luis Favre da tarefa de receber US$ 4 milhões da construtora Odebrecht, segundo a imprensa peruana.
Favre foi assessor do Partido dos Trabalhadores – PT e ex-marido da senadora Marta Suplicy. De acordo com a imprensa local, em depoimento ao Ministério Público Fiscal peruano, Gil Shavit declarou ter participado de uma reunião em que Moreno estipulou o preço para favorecer a Odebrecht em uma concorrência, recomendando ao representante da construtora - identificado como "funcionário número 5" - que o dinheiro da propina fosse entregue a Favre.
Em nota, o Ministério Público Fiscal não cita o nome de Luis Favre, mas explica que documentos apreendidos em imóveis de Shavit e de Moreno e depoimentos de outros dois colaboradores da Justiça reforçam as suspeitas de que o governador de Callao cobrou propina da Odebrecht para escolher a empresa para construir uma rodovia próxima a Lima, a Costa Verde del Callao.
Por intermediar o contato entre o governador e representantes da empresa, Shavit teria recebido cerca de US$ 1,6 milhão. Os US$ 2,4 milhões restantes seriam para o governador, que responde pelos crimes de lavagem de dinheiro e tráfico de influência.
Moreno nega ter recebido qualquer vantagem. Ainda assim, atendendo a um pedido do Ministério Público, o Terceiro Tribunal de Investigação Preliminar, da Câmara Criminal Nacional, decretou, no último sábado (8), a prisão preventiva de Moreno por 18 meses. A defesa recorreu da decisão.
Investigações
As autoridades peruanas chegaram a Félix Moreno ao investigar a suspeita de que a Odebrecht e outras construtoras pagaram cerca de US$ 29 milhões em propinas a funcionários dos governos dos ex-presidentes peruanos Alejandro Toledo (2001-2006), Alan García (2006-2011) e Ollanta Humala (2011-2016).
O nome de Favre vem sendo associado às suspeitas desde pelo menos o ano passado, quando a comissão do Congresso peruano que apura as suspeitas de corrupção promovida por construtoras brasileiras anunciou que o convocaria a depor. As acusações de que Favre faria lobby para construtoras brasileiras interessadas em contratos de obras públicas no Peru começaram a surgir logo após o ex-presidente Ollanta Humala chegar ao poder, em 2011. Favre trabalhou nas campanhas de Humala à presidência em 2006 (quando o candidato foi derrotado) e em 2011, quando o nacionalista foi eleito.
"Fantasiosas"
Em nota divulgada nas redes sociais, no último dia 3, Favre admite que também trabalhou para a candidatura a governador de Félix Moreno, em 2014. Mas classifica como "absolutamente fantasiosas" as notícias de que teria participado de qualquer negociação envolvendo o governador eleito e qualquer construtora brasileira.
"Nunca me foi entregue, nem fui solicitado a entregar dinheiro para os responsáveis pela campanha. Não tenho, tampouco tive, qualquer relação laboral, contratual ou comercial com nenhuma das empresas brasileiras mencionadas [nas investigações da Comissão Lava Jato, do Congresso peruano] que têm investimentos no Peru", afirmou Favre.
A reportagem não conseguiu contatar Favre para comentar o depoimento de Shavit. Já a Odebrecht Peru informou à Agência Brasil que está cooperando com as autoridades do país para o avanço das investigações.