Poucas coisas despertam tanto pavor nos homens quanto o aparecimento das famosas "entradas" no cabelo, mas um estudo revolucionário divulgado nesta quarta-feira (16) aponta pela primeira vez para um tratamento genético capaz de curar a calvície.
Em experiências com ratos, os cientistas da Universidade da Pensilvânia demonstraram que a pele de animais feridos é capaz de regenerar naturalmente os folículos de onde nascem os fios de cabelo.
Os pesquisadores também identificaram o gene vital responsável pelo crescimento normal do cabelo, e conseguiram estimular ou interromper o crescimento do cabelo, através da manipulação da atividade protéica ao nível molecular. Ao contrário de outros tipos de terapia contra a calvície, este método é não-invasivo.
Os resultados surpreenderam muitos cientistas, que há tempos haviam concluído que os folículos capilares dos mamíferos não eram capazes de se regenerar. A cabeça humana nasce com cerca de 100 mil desses pequenos órgãos geradores de cabelo, mas uma vez que sua função cesse, o couro cabeludo vai aos poucos ficando exposto.
A pesquisa, publicada na revista científica britânica Nature, é mais do que surpreendente porque reproduz resultados semelhantes observados há 50 anos atrás em coelhos, camundongos e humanos, largamente divulgados porém ignorados desde então.
Coordenador do estudo, o dermatologista George Cotsarelis, é também co-fundador de uma empresa, a Follica, que obteve licença para usar essa tecnologia para desenvolver tratamentos de restauração capilar.
A calvície sempre foi motivo de angústia para milhões de pessoas em todo o mundo. Confrontados com o problema, elas gastam bilhões de dólares todos os anos em medicamentos (em geral fraudulentos ou pouco eficientes) só nos Estados Unidos, de acordo com dados da Federal Drug Administration (FDA), agência federal americana que regula os medicamentos e os alimentos.
Pequenas fortunas também são gastas em dolorosos implantes capilares e outros tipos de substitutos mais ou menos convincentes.
Durante as experiências com camundongos, os pesquisadores descobriram que remover uma pequena área da epiderme (camada mais externa da pele) entre 1 e 2,5 centímetros de diâmetro, "desperta células tronco" com capacidade de gerar novos folículos. Depois de cicatrizada, a pele volta ao aspecto normal.
"Os novos folículos capilares crescem, cumprindo o ciclo capilar, e no fim não é possível sequer distingüí-los do cabelo remanescente", explicou Cheng-Ming Chuong, patologista da Universidade da Southern California, em comentário também publicado na Nature.
"Estas descobertas inesperadas podem mudar toda a nossa atual compreensão acerca da cicatrização e regeneração em mamíferos adultos", disse, mas lembrou que a pele do homem e do camundongo cicatrizam de formas diferentes.
Para entender o que acontecia ao nível molecular durante o processo, Cotsarelis e sua equipe usaram camundongos nos quais as células que geram os fios foram geneticamente marcadas previamente para que pudessem ser rastreadas depois que o pedaço de pele fosse retirado.
A ferida ativou uma via de sinalização de um gene, chamado Wnt, essencial para que o cabelo se desenvolva naturalmente. Quando os cientistas inibiram a sinalização, a renovação capilar foi sensivelmente reduzida.
Por outro lado, os camungondos cuja atividade do Wnt foi estimulada tiveram um "aumento significativo" no número de novos folículos capilares.
"Isso abre uma janela para a manipulação genética dos folículos capilares, além de tratamentos para feridas, perda de cabelo e outras doenças degenerativas", concluíram os pesquisadores.
Chuong vê aplicações ainda mais abrangentes para o estudo. "A medicina regenerativa promete identificar as capacidades naturais de cicatrização, além de uma mudança positiva da reparação para a regeneração", declarou.
"Se simplesmente alterarmos o ambiente das células tronco durante a cicatrização da ferida, é possível que futuras feridas talvez se regenerem melhor".