O líder espiritual do Tibete, o Dalai Lama, afirmou que está pensando em nomear seu próprio sucessor, acabando com séculos de tradição.
Geralmente, depois da morte do Dalai Lama, autoridades budistas tibetanas, orientadas por sonhos e sinais, identificam uma criança que vai substituir o líder morto.
Mas o Dalai Lama afirmou que, desta vez, teme que a China possa tentar influenciar o processo.
O líder espiritual afirmou que pensa a respeito da questão "há 20 anos" e que, além de analisar se deve escolher ele mesmo seu sucessor, pensa na possibilidade de que o futuro Dalai Lama seja eleito pelos monges budistas mais importantes.
"Se o povo tibetano quer manter o sistema (de liderança) do Dalai Lama, uma das possibilidades que tenho examinado com meus assistentes é escolher o próximo Dalai Lama enquanto ainda estiver vivo", disse ao jornal japonês Sankei Shimbun, durante uma visita ao Japão.
"Se a China escolher meu sucessor depois de minha morte, o povo tibetano não iria apoiá-lo, pois o coração do povo tibetano não estará nele."
Detenção
O governo chinês reivindica soberania sobre o Tibete, que controla desde sua invasão em 1950. Mas muitos tibetanos ainda são leais ao Dalai Lama.
A China é contra o envolvimento do líder espiritual em questões políticas e vê o Dalai Lama como um separatista.
Quando ele escolheu um menino de seis anos para ser a segunda figura mais importante do Budismo Tibetano, o Panchen Lama, a China deteve o menino e escolheu um substituto, leal ao governo chinês.
O governo chinês é contra as viagens do Dalai Lama a outros países, como sua recente viagem aos Estados Unidos e a atual viagem ao Japão.
Na entrevista ao jornal japonês, o Dalai Lama afirmou que tinha alguma esperança de que ocorressem "debates extremamente abertos e livres" com os antigos líderes chineses Deng Xiaoping e Hu Yaobang no começo da década de 80.
"Mas a situação se deteriorou quando Lhasa foi colocada sob lei marcial em 1989, depois do movimento de democratização na China. A situação melhorou alguns anos depois, mas, agora, está extremamente tensa", afirmou.
Reencarnação
Os budistas acreditam que o atual Dalai Lama é a reencarnação de seus antecessores.
Ele foi identificado por um grupo de busca, que procurou nas zonas rurais do Tibete por uma criança nascida por volta da mesma época em que o Dalai Lama anterior tinha morrido.
Quando ainda era criança, o atual Dalai Lama identificou corretamente pertences e relíquias de seu antecessor.
O Dalai Lama sempre disse que, se ele reencarnar, não seria em um país governado pela China ou em qualquer outro lugar que não fosse um país livre.
O líder espiritual tibetano vive em exílio na Índia desde 1959, quando houve uma tentativa fracassada de levante contra o domínio chinês.