O acidente com o Veículo Lançador de Satélites (VLS-1), ocorrido na última sexta-feira, no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão, era tão improvável que o presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Luiz Bevilacqua, ao receber a notícia uma hora depois da explosão, disse que só se fosse de "foguete de São João".
Longe de transparecer ironia, a frase demonstra, na verdade, a crença no sucesso da terceira missão do VLS-1.
Bevilacqua esteve junto com os ministros Defesa, José Viegas e da Ciência e Tecnologia, Roberto Amaral, neste sábado em Alcântara, quando sobrevoaram o local de onde o foguete seria lançado amanhã.
Na sexta-feira à noite, ele relatou que tudo corria normalmente em Alcântara até o dia anterior ao acidente, segundo relatos que recebeu do coordenador da Operação São Luís, major-brigadeiro Tiago Ribeiro, que também e diretor do Centro Técnico Aeroespacial (CTA). "Estive lá no fim de semana passado e o moral da equipe era altíssimo, estavam todos muito confiantes de que, dessa vez, daria certo", disse Bevilacqua no dia do acidente, abatido pela notícia, referindo-se ao fracasso do lançamento dos dois protótipos anteriores, em 97 e em 99.
Tiago Ribeiro descartou a possibilidade de erro técnico por parte da equipe do CTA. Segundo ele, os técnicos realizavam procedimentos de rotina momentos antes do acidente e a atividade não envolvia riscos. "Se fosse (de risco), não haveria tantas pessoas no local naquele instante", afirmou o coordenador da Operação São Luís, nome da campanha de lançamento do foguete. Ele reforçou ainda que a equipe do CTA era altamente qualificada e não cometeria uma falha tão primária.
O incêndio começou por volta de 13h30, quando 11 engenheiros e 10 técnicos do CTA trabalhavam diretamente na plataforma de lançamento. Organização do ministério da Aeronáutica cuja responsablidade é desenvolver atividades técnico-científicas relacionadas ao ensino, pesquisa e desenvolvimento aeroespaciais, o CTA fica em São José dos Campos (SP) e 110 de seus técnicos estavam em Alcântara para trabalhar na Operação São Luís, juntamente com funcionários do próprio CLA, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), do Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI) - que fica em Natal (RN) - e da Universidade Norte do Paraná (Unopar). A operação envolvia, ao todo, 235 pessoas e culminaria com o lançamento do VLS-1 amanhã (25).
Não se tem notícia de ocorrência de acidentes com lançadores antes da data do lançamento, nos países que realizam esse tipo de operação. O Brasil faz parte desse seleto grupo, composto ainda por Rússia, Ucrânia, Estados Unidos, França, Índia e China. Há casos de acidentes sempre nos momentos seguintes ao lançamento.
O foguete, que se desintegrou no incêndio cujas chamas atingiram por volta de três mil graus centígrados, era o terceiro protótipo desenvolvido pela equipe técnica do CTA. Na agenda do Programa Nacional de Atividades Espaciais, seriam necessários quatro lançamentos para o que se chama no jargão tecnológico-espacial de homologação do veículo.
A Comissão de Investigação para apurar as causas do acidente foi instalada, hoje, pelo Comando do Estado Maior da Aeronáutica, concentrará seu tabalho na determinação dos fatores e dos motivos que causaram o incêndio na base do primeiro estágio do foguete e sua conseqüente destruição.
O diretor do Instituto de Aeronáutica e Espaço, Antônio Carlos Cerri, foi escolhido para coordenar as investigações. A equipe já reúne condições para iniciar o trabalho, agora que os corpos dos 21 servidores do CTA foram retirados do local. Material fotográfico de momentos anteriores ao acidente e fitas do sistema de câmeras que acompanhavam os trabalhos na plataforma serão utilizados pela comissão na tentativa de esclarecer o que provocou o incêndio.
A identificação dos corpos tem prosseguimento. A primeira identificada, pela manhã, foi o engenheiro Cesar Augusto Costalonga Varejão, de 49 anos de idade, que foi diferenciado dos demais colegas mortos no incêndio, por ser o mais alto deles.
Informações Agência Brasil