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Cigarro só faz mal se for aceso, diz executivo

02 set 2003 às 19:14

Após registrar uma queda de quase 8% nas vendas de cigarros no primeiro semestre, a Souza Cruz decidiu deflagrar uma campanha de comunicação em 34,5 mil dos seus 200 mil pontos-de-venda espalhados pelo país, adotando o discurso de transparência, responsabilidade social e preocupação com a saúde dos fumantes.

A empresa nega que o objetivo da campanha seja segurar a queda nas vendas. Defende que visa apenas ampliar o acesso das informações pelos consumidores.


No entanto, a Souza Cruz diz ser "confidencial" a quantia gasta na campanha. O primeiro passo foi colocar em seu site a lista das substâncias que compõem a fumaça e o cigarro da marca Free, mais voltada para o público jovem e sofisticado.


"Todos os ingredientes são aprovados para uso em alimentos pela legislação brasileira. Já os constituintes da fumaça são substâncias geradas pela combustão do fumo e algumas estão estatisticamente associadas a riscos [de doenças]", disse hoje João Paulo Gava, gerente de assuntos corporativos da Souza Cruz, em entrevista virtual promovida pelo site Comunique-se, especializado em mídia.


Questionado se outra forma de explicar isso seria dizer que os cigarros só fazem mal à saúde quando acesos, Gava respondeu: "É isso mesmo. As substâncias estatisticamente associadas aos riscos são geradas pela combustão do cigarro."


A campanha, elaborada pela agência de publicidade Ogilvy, inclui divulgação em bares, padarias e lojas de conveniência, por meio de cartazes e painéis nos pontos de venda, nas próximas três semanas. Não houve consultoria médica.


"Fumar com moderação"


"O objetivo da campanha é informar os consumidores adultos, de modo que possam tomar a decisão de fumar ou não", disse Gava.


O mote da campanha é "fumar com moderação", o que lembra a mensagem obrigatória das propagandas de bebidas. Segundo Gava, isso significa "diminuir o consumo de cigarro, fumando menos por dia ou menos dias por semana".


Ele afirma, como manda a lei, que não existe um nível de consumo isento de risco, e que a única forma segura de evitar os riscos é não fumar.


"Não se trata de uma propaganda enganosa, pois estudos reportam a redução de riscos em grupos de pessoas que fumam menos", diz Gava.


A segunda etapa da campanha, denominada "Free Line" e ainda sem data para lançamento, difundirá por telefone a mensagem "livre para fumar ou parar" e promete dar informações ao consumidor sobre "o hábito de fumar com moderação". A empresa diz que não sofreu pressão de grupos antitabagistas para desenvolver a campanha.


Ações na Justiça


Maior fabricante de cigarros do país (78% do mercado legalizado), a Souza Cruz também é dona das marcas Derby, Hollywood, Carlton, Continental, Plaza, Hilton, Camel, Lucky Strike, Minister, Belmont e Ritz.


A partir do próximo dia 16, a Souza Cruz deve informar em seu site a constituição das demais marcas.


A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) prepara uma nota para comentar a campanha e as declarações do gerente da Souza Cruz.


Atualmente, os cigarros comercializados legalmente no país são obrigados pelo governo a trazer algumas mensagens nos maços, como "Fumar causa infarto do coração", "Fumar na gravidez prejudica o bebê", "Fumar causa câncer de pulmão", "Fumar causa impotência sexual" e "Em gestantes, o cigarro provoca partos prematuros, o nascimento de crianças com peso abaixo do normal e facilidade de contrair asma".


Atualmente, correm na Justiça 260 processos contra a Souza Cruz, movidos por fumantes ou famílias de vítimas no Brasil. Diferentemente das sentenças nos tribunais norte-americanos, nunca a Justiça brasileira concedeu indenizações milionárias definitivas contra a indústria tabagista.

Informações Folha Online


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