O candidato opositor na eleição presidencial venezuelana, Henrique Capriles, afirmou que a oposição não vai reconhecer os resultados da votação realizada no domingo, até que haja uma recontagem de "voto por voto" no processo eleitoral.
Falando após o anúncio de que o chavista Nicolás Maduro venceu o pleito por apenas 230 mil votos de diferença, Capriles mostrou um relatório onde, segundo ele, constam 3,2 mil incidentes eleitorais, que a oposição também exigirá que sejam investigados.
"Digo com toda a firmeza, compromisso e transparência: não vamos reconhecer o resultado até que não seja contado cada voto dos venezuelanos, um por um. O povo venezuelano merece respeito", protestou Capriles.
No sistema venezuelano, 54% dos votos registrados em cada urna eletrônica já são auditados para evitar erros. Entretanto, Capriles disse que "nós temos, de acordo com nossa contagem, um resultado diferente do que foi expressado na noite de hoje".
Pouco antes, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) anunciara que, com mais de 99% dos votos apurados, Maduro havia obtido 50,7% dos votos, contra 49% de seu opositor – o resultado eleitoral mais favorável para a oposição desde 1999.
O herdeiro do chavismo recebeu 685 mil votos a menos que Hugo Chávez obtivera na eleição presidencial de outubro contra Capriles. Já Capriles viu seus votos subirem em cerca de 680 mil de uma eleição para outra.
De acordo com o CNE, Maduro tivera até aquele momento 7.505.338 votos e Capriles, 7.270.402.
"Tenham a certeza de que se o CNE tivesse anunciado que perdi por um voto, eu teria aceitado (o resultado) com coragem", reagiu Maduro, dizendo que respeitava a decisão da oposição de pedir uma auditoria para dirimir as dúvidas em relação ao processo eleitoral.
"Não tenham dúvida de que o faria", disse a seus partidários, na varanda do palácio presidencial de Miraflores.
Instabilidade
Mal saiu o resultado, fogos, carros de som e música foram ouvidos na zona leste de Caracas, predominantemente opositora.
Em sua conta no Twitter, o analista político e econômico Asdrúbal Oliveros, opositor autodeclarado, disse que "a Venezuela está entrando em um novo período de instabilidade institucional e política" e pediu "humildade e autocrítica" a Maduro.
"Este senhor não está lendo bem esses números nem o clima ao redor", escreveu Oliveros. "Duzentos e trinta mil votos com todas as vantagens do Estado e destruir uma vantagem inicial (indicada em pesquisas) de 18 pontos..."
Depois, o analista fez menção a uma possibilidade que vinha sendo mencionada por alguns opositores à boca miúda caso Maduro obtivesse uma vitória apertada: o recolhimento de assinaturas para propor um referendo com o fim de revogar seu mandato a meio termo, como previsto na Constituição venezuelana.
Em seu discurso, o próprio Maduro mencionou a possibilidade de um rompimento institucional tendo em vista o acirramento da votação. Disse que a oposição tentou lhe envolver em uma "guerra psicológica" e tramar iniciativas para desestabilizar as eleições.
"Tomara que não tentem (um golpe de Estado)", discursou, segurando nas mãos a Constituição Bolivariana aprovada em 1999 por Hugo Chávez.
"A oposição diz que vai respeitar (os resultados eleitorais), que não vai provocar a violência... Queria acreditar neles, mas é que dizem umas coisas e depois fazem o contrário."