Um delegado de polícia denunciou nesta terça-feira que os esquadrões da morte, responsáveis pelo assassinato de dezenas de crianças no Espírito Santo há uma década, ''continuam operando'' no Brasil.
O policial, protegido pelas autoridades judiciais federais brasileiras por cooperar na investigação desses assassinatos, explicou a trama criminosa da organização ''Escuderia Le Coq, Esquadrões da Morte'' em uma entrevista coletiva concedida na sede da ONU em Genebra.
Ele se identificou com o nome falso de Francisco Badenis e está ameaçado de morte por ter denunciado a existência dessa rede criminosa, na qual estão ''policiais, jornalistas, advogados e juízes'', segundo contou.
''Policiais do alto escalão estavam envolvidos nos assassinatos'', ressaltou o oficial, que ao investigar o caso descobriu que existia uma trama destinada a ''classificá-los - aos chamados 'meninos de rua' - como criminosos para matá-los'' e ''deixar seus cadáveres nas ruas''.
Alguns jornalistas ''se encarregavam de distorcer os fatos para dar-lhes uma forma de legalidade'', acrescentou.
Badenis denunciou essa rede criminosa em 1995, quando se deu conta da envergadura de suas operações depois de fazer uma busca nos locais da encontro da ''Escuderia le Coq'' e expropriar material diverso.
Segundo o oficial, a rede era de caráter ''mafioso'' já que, além do assassinato de meninos de rua, se dedicava ao ''tráfico de drogas'' e à ''lavagem de dinheiro''.
O delegado disse que o caso está nas mãos das autoridades judiciais federais, lamentou que os autores ''ainda continuem na impunidade'' e manifestou sua intenção de ''seguir lutando contra o crime organizado e a corrupção'' no Brasil.
O policial, que recebeu uma nova identidade no programa de proteção de testemunhas do governo brasileiro, foi convidado por várias organizações não-governamentais a explicar o caso na sede da ONU de Genebra, onde se reúne atualmente a Comissão de Direitos Humanos.
O depoimento do delegado de polícia coincidiu com a apresentação de um relatório sobre a situação dos direitos humanos no Brasil elaborado conjuntamente pela organização não-governamental irlandesa ''Front Line'' em colaboração com a brasileira ''Justiça Global''.
O relatório das duas organizações inclui perto de uma centena de testemunhos de pessoas que sofreram todo tipo de ameaças de morte ou coações, e uma lista de 22 assassinatos de ativistas dos direitos humanos, assim como de vários sindicalistas desde 1997 e questões de meio ambiente.