Em sua despedida como papa, Bento 16 deixou nesta quinta-feira o Vaticano de helicóptero rumo a seu retiro na residência papal de Castel Gandolfo, perto de Roma.
Antes de partir, o "papa emérito", como passa a ser chamado, prometeu, perante os cardeais católicos, "obediência e reverência" a seu sucessor.
Autoridades do Vaticano informam que ele não poderá intervir publicamente no papado de seu sucessor, ainda que possa oferecer conselhos.
Bento 16 renunciou no último dia 11 ao cargo de sumo pontífice, e a eleição para o novo papa será realizada em março.
A data do conclave ainda não foi confirmada, mas o porta-voz do Vaticano, Tarciso Bertone, afirmou nesta quinta-feira que os cardeais devem se reunir a partir de segunda-feira para definir o processo de sucessão.
O futuro papa terá como tarefas principais a reforma da burocracia do Vaticano, muitas vezes hesitante na reação a crises que surgiram no papado de Bento 16, disse o correspondente da BBC no Vaticano David Willey.
Entre essas crises estão escândalos de abusos sexuais por clérigos e denúncias de corrupção, que vieram à tona pelo vazamento de documentos do Vaticano.
Despedida
Ainda nesta quinta-feira, antes de partir para Castel Gandolfo, Bento 16 recebeu seus cardeais para uma cerimônia de despedida.
"Entre vocês está o futuro papa, a quem prometo minha obediência e reverência incondicional", disse Bento 16. "A Igreja é um ser vivo, (mas) também se mantém sempre a mesma."
Nesta mesma noite, às 20h locais (16h, hora de Brasília), Bento 16 deixará oficialmente de ser papa, em momento que será marcado simbolicamente pela início de uma marcha da Guarda Suíça dos portões de Castel Gandolfo rumo ao Vaticano.
Em seu retiro, Bento 16 (que manterá esse nome) passará a usar uma batina branca simples e trocará seus famosos sapatos vermelhos por marrons.
Seu anel papal será destruído, como manda a tradição.
Na quarta-feira, cerca de 150 mil pessoas lotaram a praça São Pedro para ouvir um discurso de despedida de Bento 16, que renuncia após quase oito anos no papado.
Ele agradeceu os fiéis por respeitarem sua decisão de abandonar o cargo e disse que esta foi tomada pelo bem da Igreja Católica.
"Houve momentos de júbilo e luz, mas também momentos difíceis", afirmou à multidão, sugerindo a existência de brigas internas dentro da igreja.
"Houve momentos, como já houve na história da Igreja, em que os mares estiveram agitados e o vento soprou contra nós e parecia que Deus estava adormecido."
Desafios e críticas
Um dos cardeais presentes nos atos de despedida de Bento 16 disse ao correspondente da BBC James Robbins, em Roma, que o clima entre o papa emérito e os cardeais é de "gratidão e amor".
Mas outra fonte no Vaticano diz que a Igreja Católica está "flagelada" com os escândalos de abusos sexuais e que o novo papa terá de prosseguir o combate à pedofilia entre os sacerdotes.
Ao mesmo tempo, a renúncia de Bento 16 foi abertamente criticada pelo principal representante da Igreja Católica na Austrália, o cardeal George Pell, que questionou a liderança papal.
Pell disse que, enquanto Bento 16 foi um "professor brilhante", "governar não foi seu ponto forte".