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Balanço 100 dias: Lula diz que sabe das dificuldades do Brasil, mas acredita em país melhor

08 abr 2003 às 08:58

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez nesta segunda-feira um balanço dos primeiros 100 dias do governo em cadeia nacional de rádio e televisão.

A crise econômica enfrentada atualmente pelo Brasil foi o primeiro assunto comentado pelo presidente.


Lula lembrou que, ao assumir a Presidência da República, a economia brasileira vivia "um momento dramático", com o dólar alcançando R$ 4,00, o risco Brasil disparando e a inflação voltando a crescer. "Alguns diziam que o Brasil estava à beira da falência", lembrou.


O presidente, entretanto, fez questão de enfatizar que esse desabafo não se trata de uma reclamação, uma vez que ele e sua equipe sabiam das dificuldades que teriam que enfrentar ao longo dos próximos quatro anos.


"Não se trata de jogar a culpa em ninguém. Se trata, apenas de deixar bem claro como recebemos o país. Para que vocês possam compreender, de verdade, a dimensão do esforço e a importância do trabalho que fizemos para mudar esse quadro", enfatizou.


Na avaliação do presidente, não é exagero afirmar que o futuro do Brasil e de todo o seu governo dependiam, diretamente, de como conduziria o país nesse início da sua gestão.


Confira a íntegra do discurso de Lula


Meus amigos e minhas amigas:


Há pouco mais de três meses, tomei posse como Presidente da República. E, apesar de muito pouco tempo, acredito que vocês já começam a sentir que hoje o Brasil tem um Governo diferente.


Um Governo que conhece muito bem o tamanho das nossas dificuldades, mas que acredita num futuro bem melhor para o nosso país e para o nosso povo.


Ao longo do meu Governo quero, de quando em quando, conversar com vocês diretamente, como faço neste momento. Quero que vocês saibam sempre, exatamente, o que pensa o seu Presidente em cada momento da vida nacional.


Vamos começar essa conversa de hoje pela grave crise econômica que o nosso país enfrentava quando assumi a Presidência. Todos vocês sabem que, quando tomei posse, a economia brasileira vivia um momento dramático.


O dólar chegando a quatro reais. O risco Brasil disparando. A inflação voltando a crescer e o crédito internacional, para as empresas brasileiras, praticamente a zero. Alguns diziam que o Brasil estava à beira da falência.



Vejam, não estou reclamando, esse não é o meu estilo. Até porque, eu e minha equipe já sabíamos o que viria pela frente e tínhamos consciência de que fomos eleitos para mudar tudo isto.


Quando falo para vocês desses três primeiros meses, é importante falar com clareza: não se trata de jogar a culpa em ninguém. Trata-se apenas de deixar bem claro como recebemos o país.


Para que vocês possam compreender, de verdade, a dimensão do esforço e a importância do trabalho que fizemos para mudar este quadro. Acreditem, não é exagero afirmar que o futuro do país e praticamente de todo o meu Governo dependia desse começo.


Com as viagens internacionais que fiz, mostrei ao mundo que tínhamos um projeto de Governo sério e responsável, capaz de replanejar o Brasil não apenas para os próximos 4 anos, mas, sim, para os próximos 20 ou 30 anos.


Sobretudo, mostrei que o Brasil é o país do carnaval e do futebol, sim, e com muito orgulho, mas que somos, também, o país da indústria, da agricultura, do comércio e do turismo.


Enfim, um país imenso, com grande potencial de crescimento. E, o mais importante, com um povo sério e trabalhador.


Ao mesmo tempo, internamente tomamos medidas firmes que, creiam, me custaram algumas noites de sono: aumentar juros, cortar despesas. Mas o sacrifício não está sendo em vão.


O dólar caiu, o risco Brasil caiu mais da metade, a inflação está caindo, os títulos brasileiros lá fora recuperaram muito do seu valor e o crédito externo para as nossas empresas já está de volta. O mundo voltou a acreditar no Brasil.


Foi um remédio amargo? Eu sei que foi. Mas, para mudar o país, de verdade, muitas vezes o remédio amargo é a única alternativa. Agora é seguir em frente, com cuidado, sem otimismo exagerado, com os pés no chão, mas com a certeza de que dias melhores virão.


Não vejo a hora de os juros baixarem e a economia retomar seu crescimento. E como eu gostaria de dar já, agora, um aumento maior para o salário mínimo.


Mas 240 reais, neste momento, creio, é o máximo que a prudência e a cautela me recomendavam. Mas quero repetir a vocês o que disse durante toda a campanha: até o final do meu Governo vamos dobrar o poder de compra do salário mínimo.


Começamos o Fome Zero. Esse é o maior programa contra a fome que já foi feito no Brasil. É verdade que tivemos alguns tropeços no início, mas este é um programa complexo, que implica várias mudanças estruturais no país. É por isso que nunca foi feito antes.


Quero aproveitar para agradecer a todos que nos têm ajudado. Já disse, e não me canso de repetir: ficarei realizado se, ao terminar o meu Governo, nenhum brasileiro ou brasileira depender de doação de cesta básica para se alimentar. Mas, vocês sabem, não se consegue isto sem muita luta.


A reforma tributária e a reforma da Previdência são fundamentais para o Brasil. Durante os próximos meses vou falar sobre elas, faço questão de que o povo brasileiro entenda, exatamente, por que elas são tão necessárias para o nosso futuro.


Com as reformas, vamos corrigir distorções, combater a corrupção e incentivar o desenvolvimento, única forma de gerar os empregos de que tanto precisamos.
Os projetos dessas reformas serão encaminhados, ainda este mês, ao Congresso Nacional.


E eles estão sendo feitos de forma absolutamente democrática, ouvindo todos os setores organizados da sociedade, numa perfeita sintonia com Governadores e Prefeitos de todos os partidos.
O nome disso é mudança. Mudança de estilo, mudança de forma de agir.


Mudança importante, também, é dar prioridade às empresas nacionais. Foi isso que levou a Petrobrás a rever a concorrência para a construção das plataformas P-51 e P-52, iniciadas no Governo passado.


Antes, os termos da concorrência não davam nenhuma chance às empresas brasileiras, que levavam, para fora do nosso país, milhões de dólares e milhares de empregos. A nova concorrência garante que, pelo menos, 65% da construção das plataformas sejam feitas aqui, gerando milhares de empregos aqui no Brasil e não lá fora.


É esse tipo de mudança que quero para o nosso país. Mudança de atitude, mudança de mentalidade do Poder Público, que pode e deve ajudar a construir um país mais forte, mais competitivo.


É importante acabar, de uma vez por todas, no Brasil, com a prática de deixar obras paradas pela metade. Muitas delas, apenas porque foram iniciadas por um outro Governo. Um verdadeiro absurdo! Milhões de reais gastos em estradas, pontes, viadutos e túneis, alguns quase prontos.


Mandei fazer um estudo detalhado de cada uma dessas obras e corrigir o que tiver que ser corrigido. E já determinei a retomada de centenas delas, principalmente algumas estradas importantes, que se encontram em estado de verdadeira calamidade.


Na Segurança Pública, também estamos começando a mudar. Sem dúvida, essa é uma área muito complexa. Junto com a maioria dos Governos estaduais e, também, muitas Prefeituras, estamos trabalhando para implantar um sistema único de segurança pública.


Será a primeira vez que todas as forças policiais do país trabalharão em conjunto, compartilhando cadastros, sistemas de informação e técnica de investigação. Afinal, para combater o crime organizado, precisamos de uma Polícia mais organizada ainda.


Determinei, também, a construção de cinco presídios federais de segurança máxima. E o primeiro estará pronto ainda este ano.


Enviei ao Congresso medida provisória, aumentando em quase 70% o atual efetivo da Polícia Federal. Hoje, temos 7 mil agentes, e vamos para 11 mil e 500 policiais federais em todo o país.


Como todos sabem, chegamos ao Governo num momento muito complicado para o Brasil. Mas não há de ser nada. As coisas já estão mudando e vão mudar muito mais.


Com a força de vocês, com o trabalho dos meus Ministros, o apoio do Congresso, dos Governadores e dos Prefeitos, vamos vencer todos os desafios.
Afinal, estamos apenas começando.

E eu estou muito otimista com o futuro do nosso país. O mundo inteiro acha que estamos no caminho certo.Portanto, só tenho uma coisa a pedir: continuem confiando no seu Presidente. E, o mais importante: continuem confiando no seu país. Vem de vocês a energia que precisamos. É ela que me dá força e coragem para mudar o Brasil.
Muito obrigado e boa noite a todos.


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