Nesta sexta-feira (24), dia em que o genocídio armênio completa 100 anos, a Comunidade Armênia promoveu uma série de eventos por todo o país para recordar a morte de 1,5 milhão de armênios provocada pelos turcos do Império Otomano, na Primeira Guerra Mundial entre 1915 a 1916. Em São Paulo, a data foi lembrada com uma missa na Igreja Apostólica Armênia, no Bom Retiro. Durante a cerimônia houve o ato da oração de canonização das vítimas consideradas mártires.
O consulado do país também convocou sua comunidade a levar um ramalhete de flores, fotos dos antepassados e cartazes com o sobrenome das famílias para serem depositados na frente da igreja. Às 12h15 os sinos da igreja tocaram 100 badaladas, representando os 100 anos. O horário equivale às 19h15 na Armênia e todas as igrejas dessa nacionalidade tocaram seus sinos no mesmo momento. A hora foi escolhida para recordar o ano de 1915.
Além de um século do massacre, a comunidade armênia quis chamar a atenção de todos os países para a necessidade do reconhecimento do massacre como crime contra a humanidade e genocídio. A Turquia ainda não reconheceu. Entretanto, no domingo (19), o papa Francisco usou o termo para descrever as mortes na Armênia sobre o domínio Otamano.
O secretário-executivo do Comitê do Centenário do Genocídio Armênio, João Carlos Boyadjian, explicou que no dia 24 de abril de 1915 morreram 300 intelectuais no massacre, motivo pelo qual a data foi escolhida para representar o centenário. "Muita gente acabou esquecendo desse centenário que não pode ser esquecido para que não aconteçam novas tragédias como esta".
Após a cerimônia, uma carta de reivindicações, entre elas o reconhecimento da tragédia, foi lida em um monumento aos mártires armênios. "Essa carta foi escrita em 29 de janeiro de 2015 e decretada pelo presidente da Armênia, Serge Sarkissian. Queremos ter um ressarcimento por meio do reconhecimento de outros países. Atualmente mais de 20 países reconheceram e os países que dizem adotar os direitos humanos também devem reconhecer, caso contrário estão negando os direitos humanos".
O arquiteto de 67, Stepan Hrair Chahinian, contou que sua família fugiu do genocídio e acabou se espalhando pelo mundo. Parte dela, incluindo seu pai, se estabeleceu na Síria, onde ele nasceu. Anos depois descobriu-se que uma irmã estava no Brasil. "Nos anos 1960 viemos para cá e ficamos. Meu pai faleceu no Brasil. E a história da minha mãe é parecida com a do meu pai. Meu pai tinha sete irmãos e quatro irmãs. Durante os anos houve alguns reencontros".
Neto de armênios, o diácono da Igreja Apostólica Armênia, Vâsken Yeginerian, 28 anos, nasceu no Brasil. Seu avô perdeu os pais durante o massacre e viu a avó ter a cabeça esmagada por um soldado turco, o que os obrigou a fugir para a Grécia e depois para o Brasil. "A herança que essa história deixa é a de nunca desistir. Esses mártires que ontem viraram santos na nossa igreja, ensinaram que não podemos deixar de acreditar no que cremos que é nossa religião porque eles não se curvaram diante disso".
Segundo ele, celebrar a data já não é mais momento de tristeza e sim de conscientização, reivindicação de reconhecimento e lembrança dos antepassados. "Eles deram a vida para continuar existindo a nação armênia que são quase 10 milhões no mundo todo. No Brasil são 50 mil, sendo São Paulo a maior comunidade do país. As comunidades se formaram em consequência desse genocídio. Em todos os cantos do mundo onde se vê um armênio, pode-se ter certeza de que um antepassado fugiu do massacre", disse.