O arcebispo de São Paulo, cardeal Dom Cláudio Hummes, disse na noite desta sexta-feira, que a abertura dos arquivos da ditadura deve ser debatida com os familiares das vítimas da repressão militar, "porque eles são os interessados e são os que precisam e merecem que isso fique esclarecido. Quando e como abrir, acho que isso deveria ser muito bem discutido entre o governo e eles. É com eles, sobretudo, que se deve chegar a um acordo".
O cardeal participou na noite desta sexta-feira de ato em lembrança pelos 25 anos de morte do operário Santo Dias da Silva, assassinado em São Paulo por um policial militar em um confronto ocorrido durante a greve geral dos metalúrgicos de 1979.
Para ele, o assassinato de Santo deve estimular a construção de um país "que respeite os direitos dos trabalhadores, que respeite a dignidade das pessoas e que trabalhe pela liberdade e democracia".
Dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo de São Paulo na época do assassinato de Santo, lembrou o dia da morte do operário e enfatizou a importância da abertura dos arquivos da ditadura para a elucidação do crime.
"Conheci Santo Dias no dia em que ele foi assassinado. Foi lá naquele momento que eu levei aquele grande choque de saber que o homem que eu tinha nomeado para chefe da Pastoral Operária do estado [de São Paulo] tinha sido assassinado pelo regime militar, que deve desaparecer e nunca mais aparecer no Brasil. Oxalá que se abram os arquivos para que todo mundo fique sabendo", afirmou.
A mulher de Santo, Ana Dias, considera a morte de seu marido uma brutalidade contra um líder operário que lutou pela justiça. "Há muita coisa para falar, é uma coisa que ainda está presa aqui, ainda não deu para soltar da garganta. O grito ainda está esmagado, porque a gente sabe que muita coisa ainda tem que ser feita. E que o Santo, como esse povo, como esse pessoal sem terra, sem casa, sem trabalho, ainda está gritando. E está gritando abafado, mas um dia nós vamos gritar com muita força, e com muita coragem, e vamos mudar tudo isso aí", disse.