Uma postagem no Facebook sobre o abandono de um cachorro na Universidade Estadual de Londrina (UEL). Um vídeo de câmera de segurança mostrando absolutamente tudo. Uma mensagem enviada ao editor por WhatsApp: "podemos fazer uma reportagem sobre esse caso?". Uma resposta positiva (ufa!). "Pronto, tá lá no sistema!", respondi depois de concluir o texto. Dias depois, a campanha #AdoteoOtto é lançada.
Meu nome é Gabriela Campos, sou estagiária de jornalismo no Portal Bonde e estive à frente de toda a campanha Adote o Otto. Muito prazer, leitor.
Do dia do lançamento da campanha - 2 de agosto - até a adoção - 2 de setembro - foram 31 dias. Quando o desespero começou a bater, e o pensamento de "ninguém quer adotar esse cachorro" gritava na minha cabeça, Franciela, a abençoada Franciela, entrou em contato com a Redação e se dispôs a dar um lar cheio de amor para o meninão Otto. Parece uma brincadeira divina, né?
E assim, Otto ganhou uma casa. Pais amáveis. Dois irmãos gente finíssimas. Um irmão canino pra lá de animado.
Mas essa campanha não foi apenas sobre o Otto. A hashtag #AdoteoOtto foi lançada para ajudar o vira-lata a encontrar um lar, mas também para tentar mostrar para vocês, leitores, o quanto a causa animal é algo que precisa muito da nossa atenção, como sociedade.
Quantos animais você viu andando pelas ruas da cidade hoje, enquanto se deslocava para o trabalho, para a escola, para a faculdade ou para a padaria? Garanto que pelo menos um. E se não o viu, foi porque não o enxergou. Essa é a grande sacada do #AdoteoOtto.
Eu já adotei. Dois, aliás. Brisa Maria e Nicolas Eduardo - sim, eles têm nome e sobrenome. Brisa foi um presente de um morador de rua, enquanto Nicolas cruzou o caminho da minha mãe, após ser desprezado pela antiga "guardiã". Dois cachorros sensíveis às nossas emoções, ao nosso dia a dia, ao presente que receberam: um lar.
Após um ano e meio conosco, Nicolas foi descansar no céu dos cachorros. Toda a família sentiu. Minha mãe sentiu mais que todos. "E agora, o que eu vou fazer com as coisas dele?", disse ela na manhã seguinte, segurando uma das cobertinhas do pequeno Nico.
Nicolas era um cachorro especial. Mas não pelos problemas de saúde que tinha. Ele era especial no jeitinho de olhar. No jeitinho de esperar por nós ao pé da escada. No jeitinho de pedir colo. No jeitinho de tomar sol. Até mesmo no jeitinho de arranhar a parede e de comer a tela de proteção da janela de casa.
Demos um lar, carinho e amor. Ele nos deu alegria, dor de cabeça e lágrimas: em todos os momentos, quando mordeu o cachorro da vizinha e quando partiu, respectivamente. E pagamos "zero reais" pelo Nicolas.
Ele estava na rua, precisando de alguém. Nós precisávamos dele. Não sabíamos, mas precisávamos. O pequeno vira-lata chegou, fez o que tinha de fazer, e partiu, deixando Brisa sozinha para cuidar de nós.
E tudo isso porque minha mãe não só viu o Nicolas. Minha mãe enxergou o Nicolas. Esse foi - e é - o intuito da #AdoteoOtto.
Espero que Otto seja muito feliz. Muito mesmo.
Animais não são algo inferior.
Animais são animais. Humanos são humanos.
Todos merecem respeito. Todos devem ser respeitados.
E eles precisam de nós.
Que nossos olhos passem a enxergar melhor. Que nossos corações se abram mais.
Vida longa ao Otto!