Londrina

Relato de jovem agredido em boate gera discussão nas redes sociais

21 set 2018 às 15:39

O relato de um jovem de 23 anos, agredido por seguranças na boate Level Dois, de Londrina, no último domingo (16), após a promoção da festa "La Casa de Funk", levantou discussão sobre a atuação dos profissionais contratados justamente para garantir o bem-estar dos clientes em estabelecimentos. A situação gerou discussão nas redes sociais.

Arthur Brunetti, estudante de business administration with marketing na faculdade de Swansea, no País de Gales, de 23 anos, e outros três amigos foram agredidos por dois seguranças. O relato sobre o caso foi escrito por um dos amigos de Arthur, o jornalista André Costa Branco, de 23 anos, e divulgado nas redes sociais por um outro amigo.


Na postagem, André relata que Arthur foi "covardemente agredido por dois seguranças". Segundo ele, o ataque ocorreu na saída da boate, que é vigiada por câmeras de segurança. "Nós exigimos o acesso a essas imagens para atestar que em nenhum momento meus amigos incitaram qualquer tipo de briga", explicou o jornalista.


Um dos amigos de Arthur que estava no momento de agressão relatou como tudo começou. "Estávamos esperando pra pagar, quando umas dez pessoas cortaram a fila. Não sei se essas pessoas eram da área VIP, mas os seguranças empurraram a nossa fila pra elas passarem. Tentei reclamar com um segurança e ele me deu uma 'gravata'. Isso que atrás da gente já havia pessoas reclamando, mas era outro alvoroço, outra galera. Depois da gravata, não vi mais nada, quase apaguei. O que eu lembro muito claramente era de bater com a mão, pro cara parar de me enforcar. Uma covardia total."


Neste momento, conforme o texto divulgado, Arthur tentou tirar esse amigo dessa situação, mas outros dois seguranças partiram para cima dele. "O que se seguiu foi um espancamento que poderia ter matado o Arthur", acrescentou.


"Teve uma hora que ouvi um segurança pedindo para o outro parar de me bater, porque eu já estava ficando roxo, com as pernas bambas. Ainda tomei um chute na cara. É por isso que meu olho ficou assim. A gente reclamou da fila, não íamos agredir ninguém. Lembro bem de estar com a cabeça no chão, implorando para o segurança parar, porque tinha muito sangue. Ele respondeu 'ah, agora você quer parar?' e me deu mais um soco. Depois disso, só lembro de já estar de pé, sem meu tênis, com a camiseta rasgada", contou Arthur, que está de visita ao Brasil e voltaria ao Reino Unido na terça-feira (17).


Até as 15h50 desta sexta-feira (21), a postagem divulgada com o relato de Arthur e seus amigos estava com 1,2 mil comentários, mil compartilhamentos e 5,7 mil reações.


Em seguida, Arthur foi até a delegacia com seus amigos abrir um boletim de ocorrência. "Depois da boate, eu fui para a UPA (Unidade de Pronto-Atendimento) e, depois, para casa. Só mais tarde fui ao hospital fazer alguns exames. Eu iria voltar a Inglaterra na quarta-feira, mas o médico disse que não seria muito recomendado. Então, eu e minha família resolvemos adiar minha passagem", contou à reportagem.


Em relação ao ocorrido, Arthur diz nunca tinha visto nada parecido. "Eu já morei nos Estados Unidos por um tempo, moro hoje no País de Gales, morei na Inglaterra por muito tempo, já viajei e fui em vários lugares e nunca tinha visto nada assim. A falta de preparo e treinamento dos seguranças no Brasil sempre foi motivo de piada. O que a gente vê é mais uma vítima." "Inclusive eu trabalho como garçom e barman em um hotel em Swansea, no País de Gales", acrescentou.


Bruno Trigo, um dos advogados de Arthur, afirmou que ele e seu cliente aguardam um contato da boate. "Principalmente depois da nota divulgada pelo estabelecimento que 'diz tudo, mas não diz nada'. Esperamos uma proposta de acordo. Tentei ligar na boate. Conversei por telefone com uma pessoa de lá, mas foi uma conversa rápida." Ainda segundo o advogado, o inquérito do caso está no 5ª Distrito Policial desde quarta-feira (19), quando o laudo do IML (Instituto Médico-Legal) foi entregue.


Após o ocorrido, Trigo diz ter recebido muitas mensagens de pessoas que passaram por situações parecidas em outras boates de Londrina. "Há relatos sobre situações até piores. Há também informações de que algumas pessoas fizeram vídeos da situação envolvendo o Arthur. Estamos tentando conseguir essas imagens. Também queremos procurar comissões da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e o Procon para ver se muda a cultura dos seguranças daqui da cidade." Por enquanto, o advogado adiantou que vão analisar as provas e relatos de testemunhas, tentar falar com a casa para chegar a um acordo e acompanhar o inquérito policial.


A reportagem tentou falar com responsáveis pela boate diversas vezes. Em uma delas, uma pessoa atendeu, mas disse que não poderia falar sobre o assunto.


Em nota de esclarecimento postada no Facebook na terça-feira (18), a casa afirmou que está em atividade contínua desde junho de 2009 e que não tolera nenhum tipo de violência, assédio moral ou sexual, homofobia e racismo dentro do local. Entretanto, nada cita sobre o ocorrido envolvendo os seguranças (leia na íntegra abaixo).


Uma internauta comentou em um dos posts sobre a boate "sempre dar preferência aos que estavam na área VIP, ou para conhecidos dos donos ou seguranças". Segundo seu relato, ela chegou a esperar na fila do estabelecimento por pelo menos meia hora, de repente, um homem e três meninas passam na frente de todos. Neste momento, todos começaram a reclamar. "O homem simplesmente tirou a arma da cintura e apontou para cima, para que ninguém pudesse ficar perto dele. Assim, ele passou na frente de todo mundo e foi embora como se nada tivesse acontecido."


Outro escreveu que já apanhou de um policial e de um segurança no mesmo local. Uma jovem relatou que, há algumas semanas, viu uma menina sofrendo assédio na fila. "Eu, mesmo não tão sóbria, tive que tomar uma atitude e defender ela mesmo com seguranças perto. Ninguém fez nada." Até as 15h50 desta sexta-feira (21), havia 555 comentários na postagem, 18 compartilhamentos e 1,2 mil reações.


Acesse aqui e confira a nota do estabelecimento nas redes sociais.

(Colaboraram Mariana Sanches e Luís Fernando Wiltemburg)


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