Praticar atividades físicas no entorno do Lago Igapó 2 pode não ser tão saudável quanto se imagina, especialmente nos horários de pico da Avenida Higienópolis. É o que aponta um estudo realizado para verificar a qualidade do ar na região, que detectou níveis de poluição acima do recomendado pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), do Ministério do Meio Ambiente.
A pesquisa foi promovida pelo Grupo de Poluição do Ar e Processos Atmosféricos do campus Londrina da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (Utfpr), capitaneado pelo professor Admir Targino, pós-doutor em química da atmosfera pelas universidades de Manchester e York, ambas da Inglaterra.
O estudo monitorou o índice de emissão de partículas em suspensão na atmosfera ao redor de todo o Igapó 2 e também na Avenida Higienópolis, no trecho entre o Iate Clube e a Rua Sergipe. Estas partículas, compostas majoritariamente por poeira, fuligem e reações decorrentes do contato entre dióxido de enxofre e óxido de nitrogênio com oxigênio, são apenas uma parte da poluição gerada por automóveis e outros equipamentos de combustão, como fornos. Gases, por exemplo, não foram considerados nesta etapa do trabalho.
De acordo com o professor Targino, o Conama recomenda uma exposição máxima de 240 microgramas de partículas por metro cúbico de ar a cada 24 horas. Na região do Lago Igapó 2, a emissão por minuto destes poluentes chega a ultrapassar 150 microgramas por metro cúbico. Bastariam, portanto, menos de dois minutos para que uma pessoa parada em um destes pontos inalasse mais que o recomendável para um dia inteiro. No mapa abaixo, os pontos vermelhos significam os lugares mais críticos, onde o valor é maior que 150 microgramas por metro cúbico.
"A situação é preocupante nos horários de pico, às 8h da manhã e no final da tarde, entre as 17h e 19h. Tome como exemplo alguém que corre em volta do lago ou ainda uma pessoa que espera um ônibus em um destes locais de maior concentração. Em poucos minutos, ela ultrapassa o limite diário de absorção destas partículas poluentes", explica Targino.
Para chegar a esta conclusão, o grupo de estudos utilizou um equipamento acoplado a uma bicicleta que percorria um trajeto pré-determinado. Conforme nos afastamos das esquinas entre as ruas Professor Joaquim de Matos Barreto e Bento Munhoz da Rocha Neto com a Higienópolis em direção ao aterro do Igapó 2, na Faria Lima, os índices médios diminuem. Todavia, no alto da Higienópolis, especialmente no cruzamento com a Sergipe, a emissão de partículas poluentes chega a 400 microgramas por metro cúbico de ar a cada minuto.
Segundo o professor, os efeitos desta exposição a longo prazo ainda serão detalhados em uma nova etapa do estudo. "Mesmo assim, é possível dizer, sem medo de errar, que uma exposição continuada a estas partículas, a longo prazo, pode provocar problemas no sistema respiratório. No caso de alguém jovem, saudável e sem predisposição a disfunções nas via aéreas, os efeitos da poluição demoram a aparecer, mas se temos como exemplo alguém com a saúde já debilitada ou então um idoso, em pouco tempo é possível perceber uma piora do quadro médico", afirma.
Também um praticante de atividades físicas no entorno do Lago Igapó, Targino recomenda fortemente que os horários de pico sejam evitados. "Quem tiver disposição e tempo pode optar por utilizar a área entre as 6h30 e 7h30. Depois das 8h, além da poluição há a elevação natural da temperatura e diminuição da umidade relativa do ar, que também prejudicam uma prática saudável. No final da tarde, o melhor é escolher um horário depois das 19h30", informa.
Monitoramento
O levantamento foi realizado com uma bicicleta equipada com um dispositivo que consegue identificar a emissão das partículas poluentes. Durante um mês, duas vezes ao dia, às 8h e às 17h30, o veículo realizava o trajeto entre o Iate Clube e a esquina da Sergipe com Higienópolis e depois voltava pela mesma avenida. A emissão de gases que também compõem a poluição atmosférica não foi auferida pela falta do equipamento adequado.
O professor afirma que o estudo é pioneiro em Londrina e precisaria ser expandido para diagnosticar a qualidade do ar da cidade como um todo. "É uma primeira iniciativa, mas nós gostaríamos de ver o poder público interessado em expandir este levantamento. Nós, sozinhos, não temos condições de monitorar toda a cidade. É importante identificar os pontos problemáticos para daí estabelecer linhas de combate à poluição. É fundamental regular os automóveis e os estabelecimentos que emitem fumaça", argumenta.
Vilões
Targino aponta os automóveis a diesel e, principalmente, os veículos desregulados como os principais vilões na emissão de partículas poluentes. Enquanto a média nas vias monitoradas é de 100 microgramas por metro cúbico de ar por minuto, o índice aumentava cerca de dez vezes quando um automóvel visivelmente desregulado se aproximava do equipamento. "Caminhões, ônibus e automóveis de passeio que emitiam uma fumaça escura e densa eram os principais responsáveis pelos picos de concentração", recorda.
Foi constatado ainda que estabelecimentos comerciais da região que utilizam fornos para o preparo de alimentos também aumentavam a concentração das partículas. Outro ponto que joga contra a saúde da população é a arquitetura da área. "Há muitos prédios altos, o que cria cânions urbanos, onde a circulação do ar e consequente afastamento das partículas não ocorrem. Esta situação é pior no trecho da Higienópolis mais próximo do centro da cidade", diz.
A vegetação também não ameniza a situação. "A vegetação, que já é pouca, contribui mais para a diminuição da temperatura média e elevação da umidade relativa do ar. No caso das partículas, a colaboração dela na purificação do ar é inexpressiva", analisa.