Tempo é dinheiro, dita a lógica de mercado. Mas não é assim que as coisas funcionam para as detentas do 4º Distrito Policial (DP), na zona sul de Londrina. Horas vagas elas têm de sobra. Mas quando decidem preenchê-las com trabalho, o retorno financeiro é insignificante.
Mudar essa situação é um dos objetivos do projeto ''Tecendo a Liberdade'', que será inaugurado amanhã, às 10h30, no 4º DP. A ação, realizada pela Secretaria Municipal da Mulher em parceria com a Pastoral Carcerária e outras entidades, terá no artesanato o principal meio de geração de renda para as cerca de 30 mulheres presas em Londrina. Com isso, os organizadores do projeto também pretendem resgatar a auto-estima das detentas.
Hoje, as futuras beneficiadas ainda não sabiam ao certo como iria funcionar a ação. Algumas nem tinham conhecimento do projeto. Mas todas concordavam que estava mais do que na hora de receber um reforço nos trabalhos manuais.
Sozinhas, as detentas já realizam vários tipos de artesanato. Fazem toalhas, roupas, acessórios e bonecos usando técnicas de crochê, tricô e bordado. O material é fornecido pela Pastoral Carcerária e outras organizações que dão assistência esporádica às detentas. Não é muito, mas o que elas conseguem extrair de linhas e agulhas não faria feio em nenhuma feira de artesanato.
''Aqui a gente faz de tudo. Só não faz a liberdade surgir lá fora'', diz Maria Virgínia Garcia de Almeida, 39 anos, presa há oito meses por tráfico de drogas. Enquanto a liberdade não chega, Virgínia vai ensinando as técnicas de artesanato a outras mulheres que passam por aquelas celas. ''Nunca tivemos curso. Aqui é uma que ensina a outra'', completa. Elas ressaltam a vontade de se aperfeiçoarem, aprenderem pintura e, principalmente, ganhar dinheiro com a produção.
Hoje, as peças são vendidas apenas para as visitas, a preços bem abaixo do mercado. ''Tem gente que não dá valor porque foi a gente que fez. Numa blusa que custaria uns R$ 30 lá fora a gente não consegue nem a metade do preço'', reclama a detenta Diocele Alves, 24 anos, presa há nove meses por homicídio.
O dinheiro que ela ganha não serve para ajudar no sustento dos dois filhos, de 6 e 4 anos, que deixou em Ibiporã (14 km a leste de Londrina). A maioria das mulheres utiliza a renda do artesanato para comprar comida - segundo elas, ''a da cadeia é péssima''.
Mesmo sem retorno financeiro, as detentas garantem que os trabalhos manuais são a melhor forma de passar o tempo. ''Funciona como uma terapia, pra não ficar pensando em coisa errada. É como uma matemática, a gente fica tão concentrada que não vê mais nada'', afirma Diocele.
A colega Edna Regina da Silva, 20 anos, vai além ao justificar por que é tão importante ocupar a mente dentro da prisão. ''É muito ruim ficar trancada o dia inteiro, parede de um lado e grade do outro. Você dorme e quando abre o olho, pensa que está no inferno''.