Londrina

Prefeitura estende serviço de coleta de lixo para residencial ocupado em Londrina

11 out 2016 às 09:46

A Prefeitura de Londrina irá estender ainda nesta semana o serviço de coleta de lixo para o Residencial Flores do Campo, na Gleba Primavera (zona norte), e uma nova linha de transporte coletivo será criada para atender aquela população. A decisão foi tomada na sexta-feira passada (7), durante reunião entre os moradores, o prefeito Alexandre Kireeff, representantes de órgãos municipais, Caixa Econômica Federal, Ministério Público Estadual e Ministério Público Federal.

As obras de construção das 1.218 unidades do empreendimento do programa do governo federal Minha Casa Minha Vida estão paradas há dois anos e o residencial foi ocupado há dez dias por centenas de famílias. Na última quarta-feira (5), a Justiça Federal determinou a reintegração de posse em favor da Caixa, mas ainda não há data para o cumprimento do mandado.


O prefeito disse que as medidas foram adotadas por uma "questão de ordem prática".
"Independente de ser uma área de ocupação, é uma questão de saúde pública. Calculamos que entre 2 mil e 4 mil pessoas estejam vivendo naquele local e não pode haver acúmulo de lixo. E o transporte irá garantir a mobilidade da população", justificou Kireeff.


Segundo o presidente da Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU), José Carlos Bruno de Oliveira, a coleta de lixo deve começar nesta quinta-feira (13) e a decisão sobre a linha de transporte coletivo deve demorar, no máximo, dois dias. "A coleta de lixo será feita todas as quintas-feiras enquanto as pessoas estiverem lá. Vou entrar em contato com as lideranças, meu pessoal vai lá para orientar onde devem ser colocados os resíduos. Não posso entrar com caminhão pesado no meio de um local que não tem nenhuma base", disse Bruno.


Sobre o transporte público, a companhia ainda estuda se os moradores serão servidos por uma linha já existente ou se uma linha de ônibus será criada para servir os moradores. "No máximo em dois dias a linha vai entrar. Temos que combinar alguns detalhes, avisar a concessionária, tem uma dinâmica, a gente vai ver como adaptar melhor até para a economicidade do sistema", destacou o presidente da CMTU.


Bruno afirmou estar tranquilo em relação a possíveis críticas de que a prefeitura estaria colaborando para legitimar um ato ilegal. "Eu sou presidente da CMTU, que é uma empresa que presta serviços básicos à cidade de Londrina e estou atendendo a uma solicitação do prefeito, durante uma reunião com moradores, Ministério Público Estadual e Ministério Público Federal por motivo humanitário. Enquanto as pessoas estiverem lá e a reintegração não for cumprida, as pessoas precisam ter condição de vida decente."


CONFIANÇA


A ocupação começou à meia-noite de 30 de setembro após mobilização iniciada por um grupo no WhatsApp. As 1.218 unidades já estão habitadas, com os nomes dos "proprietários" escritos nas fachadas. Aos poucos, o local começa a ganhar cara de bairro, ainda que com infraestrutura precária. A água chega a uma torneira comunitária por um encanamento improvisado pelos próprios ocupantes e é levada em baldes para as residências; o abastecimento de energia elétrica é clandestino e as primeiras fossas começam a ser perfuradas pelos moradores.


"A gente veio porque a gente não tinha como pagar o aluguel da casa onde morava, no Conjunto Maria Cecília (zona norte). Viemos eu, minha mulher, que está grávida, meu enteado, minhã mãe e três irmãos. Estamos morando todos em uma mesma casa", contou o balconista desempregado Henrique de Oliveira.


A dona de casa Ana Cláudia de Souza saiu do Conjunto Hilda Mandarino (zona norte) acompanhada do marido e da filha, onde morava com a sogra, para ocupar uma das casas do residencial. Ela chegou no sábado, dia 1º de outubro, e está confiante que o mandado de reintegração de posse em favor da Caixa Econômica Federal não será cumprido, ao menos em curto prazo. A confiança é resultado da reunião de sexta-feira na prefeitura. "Eles falaram que tem o pedido de reintegração de posse, mas é questão de tempo, não é para agora."


Para se acertarem no local, os moradores dizem contar com o auxílio de um pastor da Igreja Evangélica Assembleia de Deus. "Quem já tinha uma casa e veio para cá, o pastor mandou sair e deu a casa para uma família que não tinha onde morar", disse Oliveira. "Tem casa que não tem porta, não tem janela, mas tem muita porta e janela aí para ser colocada. O pastor arruma uma porta e uma janela e coloca na casa. Ele é uma pessoa muito boa. Ajuda todo mundo", elogiou Ana Cláudia.

Uma outra mulher, apontada pela população como uma liderança que estaria auxiliando os moradores, tem tentado restringir o acesso da imprensa ao residencial, alegando que não gostou da forma como a ocupação foi noticiada na imprensa local nos últimos dias.
A superintendência regional da Caixa Econômica Federal em Londrina foi procurada pela reportagem, mas até o fechamento desta edição não respondeu à reportagem.


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