O policial civil André Luís Santelli, preso desde 20 de março pelo Gaeco, por envolvimento na superorganização criminosa que agia na Receita Estadual de Londrina, tentou fazer parte do seleto grupo de promotores, policiais civis e militares, em 2013. O objetivo de Santelli, já naquela época, era repassar informações sigilosas do grupo à organização criminosa de fiscais da Receita.
Em agosto de 2013, a Secretaria Estadual de Segurança Pública – quando Cid Vasques ainda era o titular da pasta – determinou, por meio de resolução, o rodízio de policiais civis e militares. Periodicamente, os agentes cedidos pelas duas corporações seriam substituídos, alterando o sistema até então existente em que o próprio Ministério Público (MP) selecionava os integrantes do Gaeco. Como os promotores resistiram à mudança, em janeiro de 2014 o governo cedeu. Assim, Santelli, que havia se apresentando para integrar o Gaeco, foi recusado.
Em junho de 2014, o policial – corrompido por agentes da Receita – procurou um agente do Gaeco e ofereceu-lhe pagamento mensal para obter informações sigilosas para auditores fiscais. O agente recusou a oferta e informou à coordenação do grupo que havia sido procurado com a proposta de suborno. Os promotores obtiveram, então, autorização judicial para que o agente trabalhasse infiltrado. A medida foi deferida em junho de 2014 e perdurou até o mês passado, quando foi decretada a prisão de 21 envolvidos na Publicanos.
Ao longo de quase nove meses, Santelli telefonou várias vezes ao agente infiltrado e encontrou-se pessoalmente com ele pelo menos cinco vezes, repassando cerca de R$ 4,5 mil, dinheiro que obtinha de auditores e depositado em conta judicial aberta pelo Gaeco para este fim. Os pagamentos eram mensais ou por informação "sigilosa". Santelli também recebia dos auditores toda vez que obtinha uma nova informação sobre as investigações do Gaeco. O primeiro "pagamento" ao agente infiltrado foi levado por Santelli dentro de um livro com nome sugestivo: "Leis Penais Especiais Anotadas". Os encontros e as ligações telefônicas foram gravadas.
"Ninguém é bandido"
Em um dos diálogos entre o agente infiltrado e Santelli, o primeiro diz estar preocupado pois poderia ser delatado. O policial o tranquiliza: "Você não está lidando com bandido. Lá o nível é alto". As escutas também revelaram que o "contato" de Santelli na Receita era o auditor Marco Antonio Bueno, mas vários sabiam e concordavam com o esquema de propina ao policial do Gaeco, como Luiz Antonio de Souza e Dalton Lázaro Soares. Este último era o então delegado-chefe, que chegou a ser fotografado observando, na rua, se, de fato, a informação de que havia investigadores nas proximidades da Receita, repassada pelo agente infiltrado, era verdadeira.
Santelli, que já trabalhou na Receita de Londrina por mais de 20 anos, estava lotado no 4º Distrito Policial em junho de 2014, quando foi transferido para a Delegacia de Ibiporã, onde foi preso em 20 de março. Hoje está preso em um setor da Corregedoria-Geral da Polícia Civil, em Curitiba. O irmão do policial civil, Paulo Henrique Santelli, que é técnico da Receita, não foi preso, mas responderá ao processo por ser apontado como um dos integrantes da quadrilha.