O clima é de tensão e insegurança na Escola Oficina (zona norte), recém assumida pela Prefeitura de Londrina. Desde o início da semana, quando a nova coordenação passou a atuar na instituição, alunos estariam promovendo quebra-quebra e outros atos de indisciplina. Os pais de alunos que trabalham em um programa de reciclagem instalado no local também estão revoltados e ameaçam promover protestos.
A encampação da Escola Oficina pelo município foi oficializada no começo deste mês, junto com o anúncio de que a Associação da Criança e do Adolescente de Londrina (Acalon), ex-mantenedora da instituição, seria extinta.
A decisão foi baseada em supostas irregularidades na gestão da escola, levantadas em auditoria realizada pela prefeitura. A Acalon teria uma dívida de cerca de R$ 100 mil com o município, decorrente do mau uso de recursos públicos e do número reduzido de alunos beneficiados. A avaliação é contestada pela direção da Acalon.
Os novos coordenadores, indicados pela Secretaria Municipal de Assistência Social, estão realizando um levantamento da atual situação da Escola Oficina e do perfil dos alunos e famílias atendidos. Segundo a secretária Maria Luiza Rizotti, os alunos que tiverem programas municipais mais próximos de suas residências poderão ser transferidos. ''Mas ninguém vai ficar sem assistência'', garantiu.
Para realizar o levantamento, a escola decidiu paralisar as atividades por pelo menos uma semana. Nesta quarta-feira, boa parte das crianças e adolescentes já estava afastada das atividades.
A paralisação indignou pais de alunos que participam do programa de reciclagem, em funcionamento no local. Eles temem que o afastamento seja definitivo. ''Eles aprontaram tudo isso sem aviso nenhum. As crianças precisam dessa escola. Quando não tiver ninguém pra cuidar dos meus filhos vou mandá-los para a casa do prefeito (Nedson Micheleti)'', revoltou-se Taiza Marques da Silva, 43 anos. Ela afirma que, se a direção insistir em manter os alunos afastados da escola, os pais irão promover manifestações em frente à prefeitura.
Os participantes do programa de reciclagem também estão preocupados com o destino dos próprios trabalhos. Eles dizem que receberam um prazo, até segunda-feira, para se retirarem do terreno da Escola Oficina. ''Nós vamos para a rua? Eu não posso abrir mão disso aqui'', reclamou Noeli Correia de Oliveira, 34 anos, que diz tirar R$ 220,00 por mês da coleta de lixo. Ela teme perder também o direito à Bolsa-Escola, se o filho de 17 anos perder a vaga na instituição.
Ainda há centenas de sacos cheios de lixo no depósito da escola e, segundo os coletores, não será possível conseguir um comprador em menos de uma semana.
Os pais protestam ainda contra os cortes bruscos de benefícios que eram promovidos pela Acalon. Eles relataram que, de um dia para o outro, perderam o direito a refeições, vales-transporte e até ao acesso a material para limpeza dos banheiros comunitários.
Ontem, segundo relatos de pais e funcionários, alunos quebraram vidros e objetos da escola, se tornaram agressivos, pularam na piscina e subiram nos telhados. Esse último gesto ainda era repetido hoje, conforme apurou a reportagem.
''A gente já tinha se acostumado com o pessoal que trabalhava na escola. E se eu sair daqui vou ter que catar papel'', disse o aluno T., 13 anos. Vinte e cinco funcionários que serão afastados já estão cumprindo aviso prévio. Pelo menos três já sairam da escola.
A nova gerente de Proteção à Criança e ao Adolescente da Escola Oficina, Edsônia Jadma de Souza, argumentou que a reação dos pais e alunos ''é normal''. Disse também que houve apenas agressão verbal e que a confiança dos alunos tem que ser conquistada aos poucos. ''Há alunos mais resistentes, que ameaçam 'chutar nossa canela', mas não passa de agressão verbal. É normal, eles estão preocupados com o destino que terão'', justificou.
A coordenadora-geral da escola, Nanci Fátima Camargo, garantiu que os pais de alunos vinham sendo alertados, pela direção da Acalon, sobre as mudanças. Ela não precisou por quanto tempo a escola permanecerá fechada.