Os camelôs de Londrina (PR) voltaram ao Camelódromo Popular na tarde desta quinta-feira (12), por volta de 16h30, quando os agentes da Polícia Federal e servidores da Receita Federal deixaram o local. O desespero tomou conta dos proprietários de boxes ao constatarem que praticamente toda a mercadoria havia sido levada. Muitos camelôs choravam e criticavam a ação. Enquanto uns faziam questão de mostrar o estado das lojas, outros não queriam que a situação fosse registrada. O clima de desolação foi a conseqüência de uma operação deflagrada na manhã de quinta-feira pela Polícia e Receita Federais.
Nas primeiras horas da manhã, os 316 boxes do camelódromo foram os alvos da "Operação Capitão Gancho 2", cujo objetivo foi o combate a venda de mercadorias ilegais na cidade e crimes de descaminho, contrabando e violação dos direitos autorais. A ação da polícia causou grande tumulto no centro da cidade. Em protesto, os camelôs invadiram o Terminal Urbano, um shopping, fizeram vários lojistas baixarem as portas e entraram em confronto com a PM. Três pessoas foram feridas.
Em nota oficial, o prefeito Nedson Micheleti (PT), que participava de um evento no Shopping Catuaí, enquanto o confusão acontecia na área central de Londrina, classificou a operação policial que fechou o camelódromo de "equivocada". Ele responsabilizou a Associação Comercial e Industrial de Londrina (Acil) pelo tumulto, numa referência à denúncia apresentada pela entidade ao Ministério Público Federal, que teria motivado a Operação Capitão Gancho.
Para o prefeito, "a situação era pior antes, quando os camelôs estavam nas ruas". Instalados no camelódromo, eles se transformaram em micro-empresários e passaram pagar os impostos e taxas municipais. Micheleti negou que o problema de camelôs tenha persistido, apesar dos shoppings populares que se multiplicam na cidade. "Antes tínhamos camelôs ocupando áreas públicas, agora temos alguns ambulantes no calçadão, que são fiscalizados pela CMTU", disse o prefeito.
Ações vão continuar
O delegado da Polícia Federal, Kandi Takahashi, disse à reportagem da Folha de Londrina que o trabalho de repressão ao contrabando deve continuar em toda a cidade. "Esperamos novas autorizações da Justiça Federal para continuar o trabalho em outros camelódromos da cidade", informou.
Conforme balanço divulgado pela Receita Federal no final da tarde, cerca de 2,5 mil caixas com produtos lotaram 10 caminhões. A estimativa inicial é que o valor atinja R$ 3 milhões. Todo o material, roupas, brinquedos, CDs, DVDs e produtos de informática - foram levados para o depósito da Receita Federal.
Segundo a Folha, os donos das mercadorias apreendidas terão de comparecer em uma data marcada ao depósito para apresentar a documentação de regularidade fiscal. Só assim terão os produtos de volta. Caso não compareçam, a Receita dará início ao processo de perdimento, que destrói os produtos falsificados e passa a propriedade dos contrabandeados para a União. Eles terão 20 dias para apresentar defesa. A pena para os crimes de contrabando e descaminho é de 1 a 4 anos de prisão.
O Shopping Royal - um dos locais invadidos pelos camelôs - ficou fechado dutante o resto do dia. As lojas só serão reabertas nesta sexta-feira. Os estabelecimentos do Calçadão de Londrina também fecharam as portas e poucos se arriscaram a erguê-las já no fim da tarde - após a saída da PF.
A Folha apurou que há grande receio entre os comerciantes da área central em reabrir as portas nesta sexta. Eles temem novas manifestações e muitos não consideram seguro voltar às atividades normais.
A Associação Comercial de Londrina também foi invadida, mas já no período da tarde voltou a funcionar normalmente. Não há registros de prejuízos.
Nota oficial
No final da tarde a assessoria de imprensa do prefeito Nedson Micheleti (PT) divulgou nota oficial sobre a operação policial no camelódromo e os incidentes que ocorreram em Londrina nesta quinta-feira. Confira o texto na íntegra:
"O prefeito de Londrina, Nedson Micheleti, lamenta os fatos ocorridos na manhã de hoje (dia 12) na área central da cidade lembrando que, desde o início do seu mandato, a administração municipal vem trabalhando para regularizar a situação dos camelôs que estavam nas ruas, para transformá-los em pequenos comerciantes".
"A maioria dos antigos camelôs hoje trabalha de forma legal, com alvará de funcionamento. Além disso, o presidente Lula já está preparando medidas para regularizar a entrada de produtos importados pelas fronteiras, com o objetivo de garantir a legalidade do comércio dessas mercadorias".
"Para Nedson, uma denúncia da Associação Comercial e Industrial de Londrina (Acil), feita anteriormente ao Ministério Público Federal, motivou a operação da Polícia Federal e Receita Federal. 'Quando começamos a regularizar a situação dos camelôs, a Acil poderia ter ajudado e trabalhado em conjunto. Mas agora, com suas denúncias contra os camelôs, colocou a segurança dessas pessoas em risco e expôs a imagem da cidade em todo o Brasil, como se apenas em Londrina existisse camelódromo', destaca".
"O prefeito lembra que são centenas de pessoas, pequenos comerciantes, trabalhando e produzindo para garantir a sobrevivência de suas famílias. Por isso, manteve contato com o delegado da Polícia Federal, Kandy Takahashi, e o comando da Polícia Militar, solicitando que sejam evitados novos tumultos e confrontos".
"Nedson diz que a administração municipal continuará empenhada na regularização do trabalho dos camelôs. 'Essa nova legislação federal vai ajudar na legalização, é um bom caminho. Esperamos que a Acil não prejudique os seis anos de trabalho voltados para a regularização desses pequenos comerciantes'."
"Quanto à operação da Polícia Federal e Receita Federal, o prefeito declara: 'Se for para agir no combate à pirataria, que a ação atinja os fabricantes das mercadorias. Se o foco é a comercialização, que seja no comércio em geral e não apenas direcionado em um único estabelecimento', salienta".
>>Leia todos os detalhes sobre o conflito que tumultuou o centro da cidade na Folha de Londrina desta sexta-feira.