Londrina

Moradores de favelas são excluídos do exercício do voto

01 set 2002 às 22:16

A presença intensa e até sufocante de cabos eleitorais e candidatos nas áreas periféricas de Londrina é a prova de que a pobreza rende votos. E poderia render muito mais, haja vista que um contingente relevante dos moradores de assentamentos e invasões sequer dispõe do título de eleitor. A proporção de oito para cada dez pessoas é o que revela uma pesquisa coordenada pelo professor universitário e doutor em sociologia, João Batista Filho. Ele entrevistou 5.354 famílias residentes em 12 favelas e assentamentos de Londrina. Ou seja, 86% destas pessoas entrevistadas estão excluídas do exercício do voto e por isso dependem de outros eleitores para almejar uma condição de vida melhor, como moradia, saneamento básico, o posto de saúde, a creche para os filhos e, em muitos casos, a comida na mesa.

Diante da situação de extrema carência, para a desempregada Maria Aparecida Araújo dos Santos, 25 anos, o voto parece um bem supérfluo para a necessidade imediata de dar o que comer para os três filhos pequenos, além do ''quarto que está na barriga''. Mãe solteira, vive em um barraco erguido sobre o barro vermelho e batido do Assentamento Campo Verde, no limite entre Londrina e Cambé (zona oeste). A única prova da existência oficial de Maria Aparecida é a surrada certidão de nascimento. Se perguntar por que ainda não tirou o título, ela não titubeia: faltam os R$ 2,30 preço da passagem de ida e volta até o centro para poder ir até o Fórum Eleitoral.


Para quem vive da caridade alheia, fica claro para Maria Aparecida que o dinheiro da passagem tem uma finalidade mais imediata. ''Mas moço, eu bem que gostaria de ter o título para conseguir um trabalho com carteira assinada'', desabafa. Estima-se que em Londrina 160 mil pessoas vivam em situação de risco social, ou seja, sobrevivendo com menos de dois salários mínimos e meio.
O sociólogo vai mais além ao constatar que 90% das pessoas entrevistadas e residentes em favelas e assentamentos são semi-analfabetas. ''Como essas pessoas não dispõe (do título de eleitor) ficam à mercê de outras oportunidades, como as esmolas. E quem consegue o título não conta com outros documentos essenciais, como a carteira de identidade, fruto do comércio de favores e benefícios patrocinados por muitos políticos em troca de votos.''

A falta de escolaridade, avalia o professor, é outro agravante. ''A população (pobre e votante) não tem conhecimento algum e vota oprimida ou então de forma rápida e inconsciente.'' Um outro dado, atesta, é o descrédito dos ''sem-títulos'' com a classe política aos quais estão habituados a conviver. ''O pobre acaba condicionando o voto a uma prática clientelista.''


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