No período de um ano, um bebê aprende a sentar, caminhar, parar em pé. Cada uma destas conquistas é comemorada pelos pais. No último ano Érica Pedrão Brito, 35 anos, também comemorou essas mesmas conquistas: reaprendeu a sentar, a parar em pé e a caminhar.
No dia 6 de fevereiro de 2010, Érica foi atingida por uma pedrada na cabeça. Ela e o namorado foram atacados quando passavam de carro por um bloqueio feito por índios em frente à sede da Funai, em Londrina. Érica teve traumatismo craniano e foi submetida a várias cirurgias. Ficou 11 dias em coma na UTI do Hospital Evangélico, respirando com ajuda de aparelhos. Sofreu afundamento no crânio, perda de massa encefálica e teve o lado esquerdo do corpo paralisado. Na época, Érica trabalhava como assistente financeira e estudava Administração. De repente, a vida dela virou de ponta cabeça.
Foi então que a enorme força de vontade e a determinação de Érica apareceram. Logo que saiu do hospital, no final de fevereiro de 2010, ela começou as sessões de fisioterapia na Clínica de Fisioterapia da Unopar. "Quando cheguei aqui, eu não conseguia sentar, precisavam me amarrar para que eu não caísse da cadeira; não levantava, não fazia sozinha nem as coisas mais básicas como ir ao banheiro ou escovar o dente", conta Érica.
Hoje ela chega andando as sessões de fisioterapia e se recusa a segurar nos corrimãos enquanto percorre o corredor. "Estou caminhando, um passo de cada vez. Sento, levanto, ontem tomei sozinha meu primeiro banho. Se não fosse a fisioterapia, eu não teria esse progresso", reconhece.
Na Clínica da Unopar, sob a supervisão da professora Viviane de Souza Pinho Costa, responsável pelo setor de fisioterapia neurofuncional adulto, Érica faz exercícios no colchão e nas barras paralelas, duas vezes por semana (nos primeiros doze meses eram três vezes semanais). "Os exercícios são feitos pensando nas atividades funcionais que ela deixou de realizar depois da lesão (sentar, levantar, rolar na cama), e também treinamos as AVDs – Atividades da Vida diária, como o manuseio de um pente, da escova de dente, da caneta... Também incluímos alongamentos e mobilização de todas as articulações e treino de equilíbrio. E ela ainda leva atividades para fazer em casa", explica Viviane.
Quando olha para o longo caminho que percorreu nesse último ano, Érica só encontra uma explicação: "Minha força de vontade é o que tem me mantido viva e lutando", diz, entre lágrimas. "Ela chora muito mais pelas vitórias do que pelas perdas e isso nos motiva muito", comenta a fisioterapeuta.
O percurso adiante de Érica ainda tem muitos desafios. Ela vai fazer nova cirurgia plástica para expandir o couro cabeludo e cobrir o afundamento que ainda apresenta no crânio. O braço e a mão esquerda ainda precisam de muita fisioterapia. Mas Érica acredita que vai vencer tudo isso. Aliás, os olhos dessa lutadora estão colocados em alvos ainda maiores: "Eu e meu namorado acabamos de nos mudar para um apartamento; ano que vem pretendemos nos casar. Eu vou voltar a estudar e pretendo retomar meu emprego. Estou digitando com a mão direita mais rápido do que digitava antes, quando usava as duas mãos", conta, sorrindo. E ninguém duvida.
De acordo com o professor Ruy Moreira da Costa Filho, coordenador do curso de Fisioterapia da Unopar e especialista em fisioterapia neurofuncional, o caso de Érica pode ser tomado como um exemplo de superação.
"Não são todos que se recuperam assim, mas alguns se recuperam totalmente, ficando sem nenhuma sequela. No entanto, um dos nossos papéis é fazer com que a pessoa seja independente, mesmo com as sequelas da lesão. Pensamos que o paciente tem que dirigir, trabalhar, estudar, enfim, tem que ter vida própria. E para isso é preciso um processo que temos que orientar. Tenho um paciente que é tetraplégico, aprendeu a nadar depois da lesão e hoje vive da natação", exemplifica. Para o professor, é mais importante recuperar a pessoa do que a lesão. "Tem pacientes que não aceitam uma pequena lesão e se recusam a progredir e outros que mesmo com uma lesão muito maior, são mais independentes. Portanto, o fator humano é o mais importante", finaliza.