A notícia é digna de comemoração: as escolas londrinenses de educação fundamental registraram o menor índice de evasão escolar dos últimos onze anos. Em 1991, 5,25% das crianças abandonaram os estudos. Este índice baixou para 1,13% em 2001, e chegou a 0,93% em 2002. Os dados são da Secretaria Municipal de Educação.
Em algumas instituições, o resultado é ainda melhor: a escola municipal América Sabino Coimbra, no Jardim Paulista (zona norte), que registrou em 2001 uma evasão de 4% de seus alunos, viu o número reduzir para 0% no ano seguinte. Em 2002, as escolas municipais Maria Cândida Peixoto Salles, no Conjunto Santa Fé (zona leste), que tinha um índice de 3,6% há dois anos, e Armando Rosário Castelo, no distrito de Paiquerê (zona sul), 3,5% de evasão em 2001, também chegaram ao 0%.
''O grande responsável por esse desempenho é mesmo o programa Bolsa-Escola'', avalia Adriana Rodrigues Barra Rosa, diretora do Maria Cândida Peixoto Salles. ''Ele desperta o interesse das populações de bairros carentes, cujas famílias começam a incentivar a assiduidade das crianças nas aulas. Mas este não é o único fator. Aqui, melhoramos o lanche recentemente, e isso atrai alunos, porque em suas casas às vezes falta comida. Fora isso, os professores estão sendo capacitados e as famílias são acompanhadas ostensivamente''.
''Esse trabalho corpo a corpo é fundamental. Tem que ir na casa da criança, explicar aos pais a importância do estudo, uma noção que muitas pessoas em más condições sociais não têm'', concorda Maria Ângela Seixas, diretora da escola Armando Rosário Castelo. Concentrando suas atenções em atividades esportivas, culturais e multidisciplinares, o trabalho nas escolas municipais privilegia a atualização dos docentes para atender a uma lógica simples: professor bom reprova menos.
''A reprovação em nossa escola caiu de 24% para 12% entre 2001 e 2002. E é óbvio que isso se reflete em queda da evasão escolar, já que o aluno que repete o ano se sente desestimulado e pode desistir mais facilmente'', explica Adriana Rosa. Ela alerta que esse trabalho deve ser contínuo. ''Já tivemos casos em que crianças largaram a escola porque diziam que tinham que cuidar do irmão mais novo. Ou não vinham às aulas por vários dias porque apanhavam em casa e os pais não queriam que os outros não vissem as marcas, e aí perdiam o ano. Tem que ser chato, pegar no pé da família mesmo'', diz a diretora.
Adriana Rosa afirma que o programa de alfabetização de adultos do Maria Cândida Peixoto Salles já está proporcionando reflexos na evasão escolar, já que os pais de alunos que adquirem novos conhecimentos passam a compreender o motivo de manter os filhos na escola. A doméstica Maria Madalena Cardoso, 32 anos, nunca tinha sentado num banco de escola até aprender a ler e escrever na escola do Santa Fé.
Ela conta que tem um filho de 18 anos que está na 8ª série, num colégio fora do bairro, e que, por ter repetido o ano algumas vezes, já chegou a pensar em desistir dos estudos. ''Não deixo. Meus filhos vão ter uma oportunidade que eu nunca tive. Eu trabalho de doméstica porque nunca tive estudo'', diz Maria Madalena.