Confronto entre policiais e camelôs, quebradeira de lojas, prisão de vândalos, barricada em avenida e apreensões de milhares de CDs piratas. Tudo isso, ontem, no centro de Londrina e em plena luz do dia.
A operação especial que reuniu cerca de 80 policiais civis e militares em busca de discos e fitas cassetes falsificadas foi o pivô que desencadeou a confusão. Soldados e investigadores chegaram ao camelódromo, na Avenida São Paulo, por volta das 8h30 de ontem. Uma denúncia apresentada pela Associação Protetora aos Direitos Intelectuais e Fonográficos (Apdif), entidade responsável pela ''caça'' a produtos piratas em todo o Brasil, apontava 53 barracas como revendedoras de material falsificado.
Sob o comando do delegado-operacional do 1º Distrito Policial, Sérgio Luiz Barroso, e do capitão do 5º Batalhão da Polícia Militar, Luiz Carlos Deliberador, os homens conseguiram apreender mais de 10 mil CDs e fitas falsificados. ''Tá certo que é ilegal, mas isso tudo foi comprado com nosso suor'', lamentou Luciane de Souza, que teve um prejuízo de R$ 5 mil.
Revoltados com o recolhimento do material, os camelôs fizeram um ''arrastão'' em direção à Rua Sergipe (via que sedia grande parte das lojas populares da cidade) em retaliação à ação policial. ''Se eles estão levando nossa mercadoria, por que não autuam as lojas de R$ 1,00, onde também são vendidos CDs piratas?'', questionou Maria Araújo Santos, dona da banca nº 180, onde comercializa óculos de sol.
Os companheiros de Maria fizeram mais que isso. Por volta das 10 horas, decidiram invadir as lojas, quebrando vitrines e produtos postos à venda. A tropa de choque da PM foi acionada para perseguir e deter os vândalos. Em pleno Calçadão, os soldados prenderam cinco pessoas.
Enquanto Rogério Gonsalez, presidente da Organização Não Governamental (ONG) Canaã, responsável pelo camelódromo, tentava acalmar os ânimos, um novo conflito teve início na Avenida Leste-Oeste. Policiais militares à paisana tentaram impedir os camelôs de esconder as mercadorias. Houve agressões. Entre chutes e socos, um soldado chegou a sacar a arma e apontar para os manifestantes. Mais duas pessoas foram levadas de camburão para a 10 Subdivisão da Polícia Civil.
A reação foi imediata: dezenas de ambulantes bloquearam parte da Leste-Oeste (sentido centro-bairro) montando uma barricada com paus, tambores e pneus queimados. O protesto acabou somente por volta das 13 horas, depois que uma reunião de emergência foi marcada na Câmara Municipal com a presença do prefeito Nedson Micheleti (PT) e do presidente da Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU), Wilson Sella.
Tanto a operação quanto o conflito ocorreram em um momento delicado, em que a CMTU negociava os últimos detalhes da transferência dos camelôs para o Shopping Popular, o novo camelódromo, que vai funcionar em um prédio na esquina das ruas Sergipe e Mato Grosso. À tarde, 80% das barracas permaneceram fechadas no camelódromo, funcionando apenas as que comercializavam brinquedos e artigos eletrônicos.
Leia a cobertura completa do confronto na Folha de Londrina desta quinta-feira.