A reintegração de posse do Residencial Flores do Campo, na zona norte, está marcada para acontecer em 21 de fevereiro, mas enquanto algumas famílias resistem, outras passaram a ocupar os imóveis nas últimas semanas. A reportagem esteve no domingo (11) no local conversando com os moradores. Eles afirmam que há pelo menos 160 famílias, considerando o balanço feito há duas semanas pelos próprios moradores.
O último levantamento do MNDH (Movimento Nacional dos Direitos Humanos), apontava cerca de 60 famílias até o início de janeiro. Uma mulher que prefere não ser identificada, chegou há quatro dias no Flores do Campo, acompanhada de duas filhas e uma neta. Ela conta que morava na Vila Fraternidade (zona leste) e foi despejada por falta de pagamento de aluguel. "Eu não tinha para onde ir e não posso trabalhar porque tenho uma doença no coração e na tireoide. A única opção foi vir para cá, mas estou desesperada para saber onde vamos parar. Todo mundo aqui está deitando para dormir sem saber o que vai acontecer no dia seguinte", desabafa.
Marília Mafra de Assis, que mora com quatro filhos há um ano e quatro meses, ou seja, desde que a obra inacabada foi ocupada, conta que a cada semana, pelo menos duas novas famílias se mudam para o residencial. "Está todo mundo na mesma situação, sem ter onde morar", comenta. Assis foi uma das moradoras que foi à Prefeitura na semana passada, para participar de uma reunião agendada pela Defensoria Pública da União. "A gente tinha a esperança de ter uma resposta, mas foi uma falta de respeito, pois o prefeito não apareceu e a reunião foi desmarcada ali na hora", afirma.
"Não queremos conflito, mas quem está aqui simplesmente não têm para onde ir. A opção é rua ou ir para outra ocupação. Vamos ficar até ter uma resposta da Cohab (Companhia de Habitação)", diz Wagner Belo, que mora com a esposa e dois filhos. Belo é um dos representantes dos moradores e afirma que a maioria das famílias conta com o Bolsa Família para sobreviver e 90% possuem cadastro na Cohab de Londrina.
"Além de viver nessas condições, sofremos preconceito o tempo todo. Temos dificuldade inclusive para arrumar emprego, pois quando citamos o Flores do Campo, ninguém aceita", diz Luciane Guimarães, mãe de quatro filhos. Guimarães chegou ao Flores do Campo no dia 1º de outubro de 2016, junto com outras 427 famílias. O residencial deveria ser entregue em 2015, mas a construção ficou cerca de um ano paralisada. Nesse tempo, os imóveis foram ocupados.
O Flores do Campo é uma das maiores plantas do País no Programa Minha Casa, Minha Vida, orçada em mais de R$ 82 milhões. O empreendimento contempla a construção de 1.218 unidades, sendo 754 casa e 464 apartamentos. Além disso, o projeto envolve a construção de uma UBS (Unidade Básica de Saúde) e uma escola municipal de ensino fundamental.
Reintegração e retomada das obras
A Caixa informou por meio de nota que espera que ação de reintegração de posse relativa ao Residencial Flores do Campo seja cumprida. Segundo a superintendência, o objetivo da ação é "garantir o direito das famílias selecionadas pelo poder público, de acordo com as regras do Programa Minha Casa Minha Vida".
O presidente da Cohab-LD, Marcelo Cortez, afirma que o órgão está a postos com a mesma estrutura e efetivo da reintegração que aconteceria em 20 de novembro de 2017. "A ação de reintegração cabe à Caixa Econômica Federal e à Polícia Federal. O que nós temos à disposição das famílias são caminhões para a saída voluntária, visando diminuir o impacto da desocupação", destacou.
Cortez ressalta que a Cohab-LD fez um levantamento em novembro do ano passado e constatou que a maioria das famílias não tinham cadastro no órgão. "Foi feito então um trabalho social no local, cadastrando as famílias. Entre aqueles que já tinham cadastro, haviam alguns que eram de outra cidade ou que já foram atendidos e até outros com renda superior. Mas também haviam aquelas que realmente necessitam", completa.
Em relação à política habitacional, Cortez diz que existe um estudo em relação aos lotes urbanizados, mas destaca que essa possibilidade não visa atender a um determinado grupo. "A política habitacional é para todas as pessoas em situação de risco e que precisam de moradia. A ocupação não pode ser um fator de privilégio. Isso não vai acontecer. Essas famílias podem participar do processo, desde que elas cumpram os requisitos do programa", explica.
Cortez ainda informou que tem cobrado a Caixa Econômica Federal quanto a retomada da obra. "Segundo o que o superintendente nos disse, foi feito um processo de credenciamento e uma empresa já foi licitada para dar continuidade às obras. Então, tão logo haja a desocupação, uma perícia deve ser realizada para apontar em que condições estão os imóveis e aí fazermos o processo de seleção", finaliza. (M.O.)