Londrina

Alunos de uma escola transformam lixo em solidariedade

15 set 2003 às 18:19

Combinar lixo e solidariedade foi a receita que o Colégio Estadual Antônio Moraes de Barros, no Jardim Bandeirantes (região oeste), encontrou para integrar os alunos numa série de ações desenvolvidas dentro do projeto ''Cidadania em Defesa do Ambiente''.

O trabalho envolve quase mil alunos da 5ª série do ensino fundamental ao terceiro ano do Ensino Médio e a iniciativa deverá concorrer com os melhores trabalhos na Conferência Nacional do Meio Ambiente, que acontece em novembro, em Brasília.


O projeto promoveu uma ampla conscientização sobre a importância do lixo, mostrando o valor da prática da reciclagem, que além de preservar o meio ambiente ainda serve de fonte de renda para os catadores de lixo. Os alunos fizeram visitas ao aterro sanitário e Mata do Godoy. Além disso, discutiram o desperdício dos alimentos e formas de reaproveitá-los.


Nas turmas de 5ª e 6º séries, desde o segundo bimestre uma gincana diferente vem sendo realizada: a sala mais limpa e a turma que melhor conserva o material escolar são os vencedores.


No decorrer do projeto, os alunos decidiram que era necessário ter uma ação mais solidária. A partir daí, todo dia 10 é o ''Dia da Seletividade'', data em que os alunos trazem para a escola materiais recicláveis que eles separaram em casa.


Na semana passada, as turmas da manhã doaram o resultado da coleta para a ONG do Jardim João Turquino (zona oeste), que trabalha com reciclagem de lixo. As turmas da tarde decidiram que o material coletado será vendido e o dinheiro, usado na compra de cestas básicas que serão doadas a uma entidade beneficente do bairro.


Os alunos de 5ª e 6ª séries trouxeram alimentos de casa para a confecção das cestas. ''Acho legal contribuir para diminuir a fome das pessoas e quero que a escola faça isso o ano inteiro. Outra coisa importante é produzir menos lixo, não desperdiçar comida e comprar só o necessário'', afirmou o aluno Matheus Scarparo, 11 anos, que doou arroz, feijão e óleo.


As mães dos alunos também participaram do projeto. Elas assistiram a uma aula sobre reproveitamento de alimentos e aprenderam a fazer a multimistura. O composto, que inclui farelo e farinha de trigo, fubá, soja, casca de ovo, semente de abóbora, amendoim e folhas de mandioca, batata-doce e couve, é um rico suplemento de vitaminas, utilizado principalmente em casos de desnutrição.


Nas aulas de Ciências, foi a vez dos alunos receberem orientações sobre a importância de aproveitar os alimentos, utilizando talos de couve e cascas de frutas. Eles pesquisaram receitas e fizeram trabalhos sobre o assunto. ''Essa atividade serviu para estimular neles o hábito de comer alimentos saudáveis'', comentou a professora Karina Faustino de Godoy. Os alunos foram convidados a experimentar a multimistura e levar para casa amostras do suplemento.


Conhecer a realidade de quem depende do lixo para sobreviver também fez parte das atividades. Os alunos saíram da escola para pesquisar a realidade sócio-econômica dos catadores de papel. Eles entrevistaram 50 catadores e constataram que a maioria tem entre 31 e 40 anos, cursaram no máximo até a 4ª série e têm salário médio de R$ 201 a R$ 300.


''O trabalho foi muito importante tanto no aspecto disciplinar, já que tiveram que aprender a tabular as informações em gráficos, quanto no conhecimento de uma realidade difícil, onde a falta de estudo é comum e bastante limitante'', destacou a professora de Matemática, Marley Gouvêa Pizaia.


Denise Bueno, uma das coordenadoras do projeto, disse que o envolvimento dos professores foi fundamental: ''Foi o nosso primeiro planejamento participativo e todos os professores adaptaram a temática do lixo dentro das suas disciplinas.''


A professora Angela Basílio, outra coordenadora, ressaltou que a intenção é ampliar o projeto para todas as escolas da região. ''Seria ótimo se todos participassem do Dia da Seletividade, unindo ação ecológica com solidariedade.''

Agora os alunos estão se organizando para publicar um livro de receitas sobre o reaproveitamento de alimentos e um jornal sobre meio ambiente. Com esse objetivo, estão em andamento oito oficinas de estudo: administração, pesquisa, patrocínio, imprensa, jornal, receitas, biodigestores e reciclagem.


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