Começarão a valer na próxima segunda-feira (5) os novos limites de velocidade das avenidas Santos Dumont, Juscelino Kubitschek e Tiradentes. Para alertar os motoristas, a CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização) promove nesta quinta-feira (1º) uma ação de conscientização no cruzamento das avenidas Tiradentes e Maringá.
Os corredores de tráfego, que, juntos, somam cerca de 8 km e fazem a ligação entre as regiões leste e oeste, terão o teto máximo de circulação readequado de 60 km/h para 50km/h.
A exceção ficará por conta das proximidades dos estabelecimentos de ensino, onde as placas indicativas permanecerão fixadas em 30 km/h. Executada pela CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização), a atualização das sinalizações vertical e horizontal ao longo das três vias ocorreu entre dois e 31 de maio.
A intervenção é desdobramento da campanha “Por favor, reduza a velocidade”, lançada em 2022, que alçou a avenida Angelina Ricci Vezozzo, na região norte, à posição de primeiro ponto a receber a mudança.
De acordo com o diretor-presidente da CMTU, Marcelo Cortez, o propósito da medida é reduzir o número de acidentes e, principalmente, de mortes no trânsito. Ele contou que diversos estudos ao redor do mundo apontam que uma menor velocidade dos veículos pode evitar a ocorrência de sinistros e abrandar os danos físicos e materiais causados por eles. A Organização Mundial da Saúde (OMS), inclusive, considera a marca de 50 km/h como a velocidade máxima possível em vias urbanas.
“Os levantamentos deixam claro que a prática de altas velocidades reduz consideravelmente o tempo de reação do condutor em manobras de frenagem ou desvio. Então, nossa intenção é estabelecer um nível de deslocamento a partir do qual o motorista tenha tempo hábil para perceber o risco e reagir a ele com segurança. Um limite que faça com que, em caso de eventos inesperados, os prejuízos sejam menores e a vida seja resguardada”, afirma.
Indicativos
Segundo o Observatório Nacional de Segurança Viária, além de aumentar a probabilidade de acidentes, conduzir em velocidades elevadas diminui a chance de os equipamentos de segurança – como airbags, cinto e capacetes - serem efetivos, potencializando a severidade das consequências.
Outro estudo, este realizado pela Organização Mundial de Saúde, aponta que um pedestre atropelado a 60 Km/h tem mais de 90% de chance de ir a óbito, enquanto um atropelamento a 50 Km/h, a depender das condições da pessoa, tem 45% de chance de sobreviver, enquanto se o acidente ocorrer a 40km/h essa porcentagem cai para 35%. Em resumo, uma redução de apenas 5% na velocidade média pode significar 30% menos acidentes fatais.
Nesse sentido, avalia Cortez, é preciso investir em políticas capazes de garantir a segurança dos agentes envolvidos no cotidiano das ruas - sobretudo pedestres, ciclistas e motociclistas - sem, no entanto, abrir mão da fluidez no trânsito. Para ilustrar a possibilidade de harmonia entre essa equação, o diretor-presidente da CMTU cita um estudo realizado pela Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC) de Fortaleza, no Ceará.
O levantamento, divulgado em 10 de maio, analisou a relação entre a readequação de velocidade nas vias da capital cearense e o tempo médio de deslocamento. O estudo avaliou seis corredores submetidos à adaptação do limite de circulação em 50 km/h, mostrando um aumento de apenas 6,08 segundos no tempo médio de viagem a cada quilômetro percorrido.
O resultado, que desconstrói o argumento de que a readequação de velocidade implicaria em prolongar de forma significativa o tempo de permanência dos condutores no trânsito, revelou também que, em determinadas vias analisadas, o número de acidentes com mortes caiu aproximadamente 68% após a intervenção.
Em Londrina, um teste realizado pela Diretoria de Trânsito da companhia constatou que, se um condutor conseguisse manter a velocidade constante de 60 km/h ao percorrer as avenidas Santos Dumont, JK e Tiradentes, o tempo deslocamento até a conclusão do trecho seria de 8 minutos, desconsiderando os momentos no semáforo. Já a 50 km/h, a duração da viagem teria, em média, apenas um minuto e 36 segundos a mais – diferença considerada irrelevante quando o objetivo é evitar mortes e lesões graves.
Campanha
A iniciativa que pede aos condutores para que reduzam a velocidade nos deslocamentos está alinhada com o programa “Visão Zero”, criado e desenvolvido na Noruega a partir de 1997. A abordagem tem como conceito a compreensão da vida como prioridade, tirando os veículos do centro dos debates sobre trânsito e mobilidade urbana.
Desde o ano de lançamento, o país europeu investiu na redução gradual da velocidade máxima nas vias, no alargamento de calçadas, na expansão da malha cicloviária, fixação do transporte coletivo como principal modal de locomoção, entre outros pontos.
A adoção do “Visão Zero” no município persegue o entendimento de que nenhuma morte no trânsito é aceitável e de que seres humanos cometem erros, mas que essas falhas não devem resultar na perda de vidas.
A perspectiva estabelece o compartilhamento de responsabilidades entre quem projeta, constrói, gerencia, fiscaliza e faz uso das vias, promovendo a gestão da segurança no trânsito de forma integrada e proativa.
Além do plano de readequar o limite de circulação permitido em alguns corredores de tráfego, o “Visão Zero” aposta também na construção de lombadas e faixas elevadas, no contínuo monitoramento e ajuste da sinalização, na implantação de semáforos para pedestres, entre outras frentes de atuação.
Desenvolvido pela OMS e pelas Comissões Regionais das Nações Unidas, o Plano Global Década de Ação pela Segurança no Trânsito 2021-2030 informa que, anualmente, cerca de 1,3 milhão de mortes evitáveis e aproximadamente 50 milhões de feridos são registrados em decorrência de sinistros de trânsito no mundo. Números que elevam a categoria como a principal causa de mortes de crianças e jovens em todo o globo.
No ano passado, Londrina registrou 2.708 acidentes e 56 óbitos no trânsito. Em 2023, entre os meses de janeiro e março, a quantidade de ocorrências chegou a 655, com 16 vítimas fatais. Dos que perderam a vida, seis eram motociclistas e cinco morreram em decorrência de atropelamentos.
Dos episódios com vítimas fatais 15 ocorreram na área urbana da cidade, onde a PR-445 desponta como a via mais violenta, concentrando seis casos.