Sob impacto de uma combinação de efeitos negativos, 17 das 26 atividades industriais registraram, em setembro, nível de produção inferior ao do pré-pandemia no Brasil. O resultado foi divulgado nesta quinta-feira (4) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Na visão de analistas, o dado representa mais um sinal de perda de fôlego das fábricas, que sofrem com escassez de insumos, aumento de custos e dificuldades no mercado interno.
O ritmo mais fraco tomou forma ao longo deste ano. Prova disso é que, em janeiro de 2021, o número de atividades abaixo do patamar pré-pandemia -de fevereiro de 2020- era menor.
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No primeiro mês de 2021, 7 das 26 atividades industriais estavam em nível inferior ao anterior à crise. Enquanto isso, outras 19 operavam em patamar acima ou igual ao de fevereiro de 2020.
A questão é que, dessas 19, 11 perderam fôlego ao longo do ano e ficaram, em setembro, em nível menor do que o anterior à pandemia.
A situação mais complicada é a do ramo de veículos automotores, reboques e carrocerias. No nono mês deste ano, a produção da atividade amargou nível 19,4% abaixo do pré-crise.
É a maior distância negativa, entre os segmentos, frente a fevereiro de 2020. A título de comparação, em janeiro de 2021 o setor de veículos estava em patamar 3,5% superior ao pré-pandemia.
Segundo André Macedo, gerente da pesquisa do IBGE, o desempenho dessa atividade tem sido freado pela escassez de insumos. A falta de chips, por exemplo, chegou a paralisar linhas de produção de montadoras.
"A pressão negativa é significativa", relatou.
Em setembro, a confecção de artigos do vestuário e acessórios ficou 14,6% abaixo de fevereiro de 2020, a segunda maior redução entre as atividades. Em janeiro de 2021, esse ramo registrava produção 11,1% maior do que no pré-pandemia.
Na sequência, aparece o segmento de móveis, que está 14,4% abaixo do período anterior à crise da Covid-19. Em janeiro de 2021, a atividade operava em nível 11,2% acima de fevereiro de 2020.
Para o economista Rafael Cagnin, do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), a perda de fôlego da confecção e de móveis reflete um conjunto de aspectos que vai desde a escassez de alguns insumos até a inflação e o desemprego elevados.
Os dois últimos fatores, sublinha o economista, diminuem o poder de compra de parte da população, o que respinga nas fábricas.
Os outros oito setores que perderam fôlego ao longo deste ano e ficaram abaixo de fevereiro de 2020 são os seguintes: couro, artigos de viagem e calçados, equipamentos de informática, produtos diversos, têxteis, borracha e material plástico, perfumaria, bebidas e outros produtos químicos.
O único setor que, em janeiro de 2021, estava abaixo do pré-crise e, em setembro, conseguiu superar esse patamar foi a indústria extrativa.
Conforme o IBGE, a produção industrial em setembro, em termos gerais, ficou em nível 3,2% inferior ao pré-pandemia.
Em janeiro de 2021, a diferença era positiva. Na ocasião, o setor operava em patamar 3,5% acima do pré-crise.
"O jogo virou. Foi da água para o vinho. Perdemos a recuperação vista a partir da metade do ano passado, e o setor segue caindo. O ano de 2021 não é de reação para a indústria", aponta Cagnin.
Segundo o IBGE, apenas 9 dos 26 ramos industriais operavam, em setembro, acima do pré-pandemia. A maior distância positiva, frente a fevereiro de 2020, foi registrada por máquinas e equipamentos.
A produção do setor ficou em nível 19,9% acima do pré-coronavírus. Em janeiro deste ano, a diferença era de 16,2%.
De acordo com Macedo, o desempenho positivo reflete a demanda por máquinas e equipamentos nos setores agrícola e de construção.
Nesta quinta, o IBGE informou que a produção da indústria geral caiu 0,4% no país, em setembro, frente a agosto. Foi a quarta retração consecutiva frente ao mês imediatamente anterior.
"A indústria teve uma reação a partir da metade do ano passado, com a base de comparação baixa e medidas emergenciais de auxílio a empresas e famílias. Mas, agora, esse processo se esgotou", analisa Cagnin.
"Temos ainda uma desarticulação das cadeias produtivas, aceleração da inflação, aumento de juros e desemprego que não cede", completa.
Na opinião do economista, o quadro pode colocar em xeque a capacidade de investimentos das empresas para modernização dos processos produtivos.