Os trabalhadores de aplicativos de serviços no Brasil têm uma renda mensal maior do que a média dos outros ocupados fora das plataformas, mas enfrentam jornadas mais extensas na semana e ganham menos por hora.
É o que indica uma pesquisa inédita divulgada nesta quarta-feira (25) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Os dados foram coletados no quarto trimestre de 2022.
À época, a renda média do trabalho principal dos quase 1,5 milhão de trabalhadores de aplicativos de serviços foi estimada em R$ 2.645 por mês.
A quantia superava em 5,4% o rendimento dos profissionais fora das plataformas (R$ 2.510) e em 5,3% o valor obtido na média geral da população ocupada no setor privado (R$ 2.513).
O IBGE ponderou que parte da diferença pode estar associada a uma composição mais heterogênea do grupo que está fora dos apps. Essa camada envolve, por exemplo, trabalhadores em ocupações com remuneração considerada muito baixa, o que contribuiria para reduzir a média do rendimento.
Segundo o instituto, outro fator que pode explicar a diferença é a jornada maior de trabalho dos chamados plataformizados. Em média, eles tinham uma carga de 46 horas por semana, o equivalente a 6,5 horas a mais do que os ocupados fora dos aplicativos (39,5 horas).
Já o rendimento por hora dos profissionais dos apps foi calculado em R$ 13,3. A quantia ficou 8,9% abaixo da obtida pelos ocupados fora das plataformas (R$ 14,6).
As informações integram um novo módulo da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua). Como o recorte é inédito, não há dados comparáveis de períodos anteriores.
As estatísticas são experimentais - ou seja, ainda estão em fase de testes e sob avaliação. Os trabalhadores de apps de serviços incluem profissionais como motoristas de transporte particular de passageiros e entregadores de comida.
"Ao comparar os diferenciais de rendimento entre plataformizados e não plataformizados, é importante considerar que existem diferenças na composição dos dois grupos quanto ao nível de instrução, assim como nas ocupações exercidas", disse Gustavo Geaquinto Fontes, analista da pesquisa do IBGE.
"Os trabalhadores plataformizados tinham jornada mais extensa. Isso também pode contribuir para as diferenças no rendimento do trabalho", afirmou.
Conforme a pesquisa, o Sudeste foi a única região do país em que a renda mensal dos trabalhadores ocupados fora dos aplicativos (R$ 2.923) superou a média mensal dos profissionais que prestavam serviços via plataformas (R$ 2.733).
O IBGE ainda divulgou comparações de rendimento e horas trabalhadas em ocupações similares dentro e fora dos apps.
No caso do transporte de passageiros, os motoristas de automóveis nos aplicativos tinham uma renda somente 1,7% acima da verificada entre os condutores fora das plataformas - R$ 2.454 e R$ 2.412, respectivamente.
Já a média de horas trabalhadas na semana pelos motoristas plataformizados superava em 17,1% a dos demais - 47,9 e 40,9 horas, respectivamente.
Outra comparação envolve os motociclistas nos serviços de malote e entrega.
Segundo o instituto, o rendimento médio dos entregadores plataformizados (R$ 1.784) correspondia a apenas 80,7% daquele recebido pelos trabalhadores da mesma categoria fora das plataformas (R$ 2.210).
Os motociclistas dos aplicativos, contudo, trabalhavam 11,2% a mais por semana, em média, do que os demais - 47,6 e 42,8 horas, respectivamente.