Tecnologia

Tecnologia pode fazer agências bancárias desaparecerem nos próximos anos

08 jul 2015 às 22:40

A instituição financeira tradicional que não quiser ficar para trás no atual cenário das novas tecnologias vai precisar passar por uma transformação. Não basta migrar os serviços oferecidos de forma física para as plataformas digitais, o que já acontece no Brasil e no mundo, mas aperfeiçoá-los e entender o que o cliente aficionado em novas tecnologias quer. Para dar conta do recado, os bancos buscam cada vez mais suporte em empresas globais de Tecnologia da Informação (TI). O próprio Original, anunciado como o primeiro banco 100% digital do País, trabalha para ter um eficiente big data, conjunto de informações e dados criptografados, e utiliza, em parceria, tecnologias e softwares inovadores de empresas como a Technisys e a OpenLink.

A instituição promete entrar em funcionamento até o final deste ano. "Se por um lado temos bancos surgindo totalmente digitais, por outro vemos instituições tradicionais precisando repensar todos os seus modelos de negócio para não perder clientes para empresas mais modernas, que, em muitas vezes, nem bancos são", destacou o vice-presidente e managing partner da IBM, Alessandro Rosa, durante palestra sobre bancos digitais no Ciab Febraban 2015.


Na avaliação dele, as instituições estão começando a perceber que a tecnologia possibilita um consumidor "mais poderoso", justamente por conta do surgimento de novos modelos de negócio. "O mobile banking, por exemplo, culmina na aprovação de muito mais crédito. O usuário não precisa mais ir até uma agência para realizar operações. Agora, as transações estão a um clique de distância", destacou.


De acordo com Rosa, a revolução tecnológica faz o usuário encontrar no mercado desde instituições 100% digitais, relativamente novas, a bancos que lançaram versões virtuais e, também, compraram empresas digitais menores para o firmamento de "alianças estratégicas". "Temos o exemplo do BBVA, que investiu US$ 117 milhões na compra do Simple (banco totalmente digital) em 2014", citou.


A digitalização dos serviços e operações por parte das instituições financeiras tradicionais também pede o intermédio de empresas de softwares de gestão. Quando procuradas e contratadas pelos bancos, as companhias ficam responsáveis por avaliar o perfil dos usuários e definir as diretrizes mais apropriadas para cada um deles.


De acordo com o diretor de Vendas da SAP Brasil, Paulo Zirnberger de Castro, muitas instituições estão preocupadas por não saberem se vão resistir à avalanche tecnológica prevista para o decorrer dos próximos 20 anos. "É uma revolução radical e nem todos estão preparados para isso", destacou.


Conforme o diretor, a transformação passa, diretamente, pela digitalização do consumidor, "que está cada vez mais conectado e onipresente". "As interações acontecem em segundos. Precisamos captar o interesse desse cliente e gerar um produto e/ou serviço que ele queira contratar", frisou.


O problema, conforme ele, é que, em muitas vezes, as soluções apresentadas são barradas pelas regulamentações, ainda não revistas para acompanhar as novas tecnologias. "Que a indústria vai se transformar, isso é um fato irrefutável, mas vemos as coisas acontecendo de modo mais lento do que gostaríamos", afirmou. Na avaliação de Castro, a transformação precisa acontecer fora do mundo das regulamentações. "Ela deve surgir de forma inovadora e dentro da criatividade. A empresa que conseguir inovar e manter os clientes fieis vai sobreviver no mercado".


Maioria dos bancos já entendeu importância da transformação


A maioria dos grandes bancos da América Latina já entendeu a importância da transformação tecnológica. Pelo menos é o que mostra uma pesquisa da empresa de softwares Technisys. Realizado em parceria com a Universidade de Standford (EUA), o levantamento ouviu diversos diretores, executivos e CEOs de instituições financeiras latino-americanas entre os dias 26 de agosto e 19 de setembro de 2014.


Pela pesquisa, divulgada durante o Ciab Febraban 2015, 83% dos bancos pesquisados podem ser considerados parcialmente digitais, com o oferecimento de serviços para dispositivos móveis. No entanto, apenas 28% deles oferecem produtos digitais avançados e de forma integrada. "Nestes bancos, a gerência promove a inovação digital em toda a instituição, e oferece para a equipe digital o respaldo e o orçamento necessários para implementar soluções digitais", aponta o levantamento.


Os outros 33%, segundo a pesquisa, ainda demonstram resistência ao lançamento de um projeto digital mais amplo. "Esse grupo vê a tecnologia como uma coisa boa, mas ainda não tem uma cultura organizacional digital", explicou o vice-presidente da Technisys, German Pugliese Bassi.


Já os 22% restantes, conforme a pesquisa, possuem consciência de que precisam digitalizar os seus serviços, apesar de ainda não terem condições para fazê-la de uma forma mais avançada. "Oferecem produtos digitais básicos, tais como Internet Banking e aplicações para telefones móveis, mas precisam das funcionalidades mais avançadas", destaca o levantamento.


O grupo de 17% considerado conservador pelo estudo também reconhece a importância da tecnologia para o setor financeiro, mas opta por centralizar as suas operações nas agências e não dedica recursos significativos à digitalização. "Ou seja, todas as instituições disseram apoiar os serviços digitais, mas boa parte delas ainda não tem condições ou conhecimento para ofertá-los", argumentou Bassi.


A pesquisa mostrou, também, que 100% dos bancos pesquisados oferecem todas as operações nas agências, mas menos de 20% deles ofertam aplicações financeiras e possibilidades de investimentos para smartphones. O serviço de internet banking, por sua vez, é utilizado por mais de 80% das instituições, assim como os caixas eletrônicos. Já as operações corriqueiras via smartphones, redes sociais e smartvs são oferecidas por 70% das empresas procuradas. O levantamento apontou ainda que menos da metade dos bancos oferta serviços por meio de cartões pré-pagos.

De acordo com o vice-presidente da Technysis, o setor bancário precisa acompanhar as outras indústrias. "Hoje, pagamos as nossas passagens aéreas pela internet, baixamos as nossas músicas nos smartphones, assistimos os nossos filmes pelo Netflix. Essa evolução ainda não aconteceu na área financeira", concluiu.


Continue lendo