O Irã passou a restringir o acesso à busca do Google e ao serviço de e-mail Gmail, sob a justificativa de que o bloqueio era "repetidamente exigido pelo povo iraniano".
O veto foi anunciado no último domingo, quando Samad Khoramabadi, conselheiro da Promotoria do país, disse na TV estatal que "o Google e o Gmail serão filtrados no país até segunda ordem".
A justificativa é de que há um clamor popular contra o site de buscas após a veiculação, pelo YouTube (pertencente ao Google), do vídeo anti-islâmico que ridiculariza Maomé.
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Mas observadores apontam que a iniciativa parece se tratar de mais uma medida de Teerã para tentar pôr em prática seu plano de criar uma rede de internet doméstica própria para os iranianos, afim de evitar "ameaças à segurança cibernética" do Irã.
Ao mesmo tempo, críticos classificaram a empreitada como uma nova ofensiva estatal contra a liberdade de expressão no país persa. Um firewall já impede que os iranianos acessem diversos sites ocidentais.
O serviço persa da BBC informou, na manhã desta segunda-feira, que o Google ainda permanecia acessível, mas não funcionava perfeitamente no país.
Os serviços do Google que exigem um SSL (Secure Sockets Layer, na sigla em inglês) já estão fora do ar.
Já o Gmail só pode ser acessado por redes privadas virtuais (VPNs), que permitem que usuários naveguem por sites banidos, apesar de restrições de firewalls codificados.
Muitos iranianos já usam VPNs para "driblar a censura do governo a sites ocidentais", explica Mahmood Tajali Mehr, consultor iraniano de telecom que mora na Alemanha.
Intranet
"(A censura ao Google) é uma iniciativa do governo iraniano em direção a uma 'intranet nacional', para controlar o tráfego vindo do exterior. Autoridades dizem que vão implementá-la em cerca de três anos", afirma Mehr. "Mas qualquer criança sabe driblar isso usando VPNs; é muito comum no Irã."
Em março deste ano, o líder supremo Aiatolá Ai Khamenei havia ordenado a criação de um órgão oficial para definir políticas relacionadas ao uso da internet - o Conselho Supremo de Espaço Virtual.
Na ocasião, Teerã já havia limitado a atuação do Google: em fevereiro, a busca e o Gmail foram restritos em antecipação às eleições parlamentares de março. Já o YouTube é censurado no país desde 2009, durante a onda de protestos contra a reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad.
Sites noticiosos como o da BBC, da CNN e do jornal britânico Guardian também sofrem bloqueios constantes, bem como as redes sociais Facebook e Twitter.
Para Mehr, é possível que o veto atual dure apenas alguns dias, "para que o governo iraniano mostre que está fazendo algo contra os EUA", em represália ao filme amador americano "A Inocência dos Muçulmanos", que tem desencadeado protestos e violência em diversos países muçulmanos - Irã incluído.
Leitores do serviço persa da BBC criticaram a ofensiva contra o Google: na palavra do internauta Hadi Khezriyan, a retaliação ao filme anti-islâmico é apenas "uma desculpa".
"É a forma (encontrada) para bloquear o Google no Irã, algo que eles queriam fazer há tempos", opinou.
Houve também quem defendesse a medida, alegando que as pessoas "não devem ter acesso a esses filmes ofensivos (como a Inocência dos Muçulmanos)".