Tecnologia

Há menos pornografia do que se pensa na internet

03 jul 2013 às 13:04

Muitos fatos relacionados a pornografia são exagerados, incluindo as estatísticas que são regularmente citadas para mostrar a quantidade existente na internet.

Hoje em dia parece estar na moda políticos, analistas e a mídia discutirem a influência da pornografia sobre crianças e adolescentes, e qual é o impacto disso na aprendizagem sobre sexo.


Várias estatísticas foram citadas nesses debates. No entanto, poucas podem ser confirmadas. Um resultado citado diversas vezes é que 37% da internet é feita de material pornográfico. Muitas das pessoas que citaram esse número pegaram a informação de um comunicado feito em junho de 2010 pela Optnet, empresa que faz análises da internet.


Um porta-voz da empresa disse à BBC: "As estatísticas não são atuais, e eu não as usaria para refletir sobre a realidade da inernet hoje em dia." Isso pode ser apenas porque há muito mais dados disponíveis.


Segundo estimativas do centro de pesquisa escandinavo Sintef, 90% de todos os dados que o homem já produziu foram gerados nos últimos dois anos. Essa explosão é resultado do surgimento da internet, de smartphones, redes sociais, e os projetos de "grandes dados" em que empresas, governos e cientistas estão envolvidos.


Criador de mercado
Mas vale a pena perguntar se algum dia esses 37% foram um número preciso, mesmo em 2010. A Optenet disse que o número veio de uma "amostra representativa" de cerca de quatro milhões de URLs tirada de seu banco de dados de conteúdo da inernet.


No entanto, nesse mesmo ano, o maior estudo já feito sobre sexualidade humana publicou um número muito diferente de quantos dos sites mais populares da web se dedicavam à pornografia.
Os acadêmicos por trás da pesquisa basearam seus resultados na análise dos um milhão de sites mais visitados do mundo.


Suas estimativas? Apenas 4% desses sites tinham conteúdo pornográfico.


Embora os dois estudos não usem a mesma métrica - Optenet conta páginas, os acadêmicos contam sites - é interessante notar que o número de páginas de um site não diz nada sobre a sua influência ou seu público. Como outros estudos sugerem, sites pornográficos tendem a ser desproporcionalmente grandes já que têm como objetivo gerar novos conteúdos a seus visitantes, resultando na criação de centenas de novas páginas a cada dia.


Os estudos então sugerem que os sites pornográficos têm um número grande de arquivos, mas o número de páginas que as pessoas realmente visitam é relativamente pequeno.
Isso significa que é melhor medir o número de visitantes ao invés do tamanho do site, disse o Dr. Ogi Ogas, co-autor do grande estudo de 2010 'A Billion Wicked Thoughts' (Um bilhão de maus pensamentos, em tradução livre).


Então, por que as pessoas escolhem os altos números?
"Números altos são mais sensacionalistas e são bons para a imprensa", disse Ogas. "Mas esses números sempre foram um mito urbano."


É provável que três anos após o estudo a quantidade de pornografia online seja muito menor devido, por exemplo, à consolidação na indústria pornô e ao aumento dos sites que duplicam e distribuem conteúdo.


Estatísticas Zumbi
Um artigo no blog de tecnologia Extreme Tech é regularmente citado por calcular que 30% de todo o tráfego na internet é gerado por sites pornográficos. Esse resultado é baseado no tráfego diário gerado por um site pornô popular e multiplicado pelas "dezenas" de outros sites pornográficos de tamanho similar.


No entanto, há problemas com essa matemática. Para começar, subestimou-se a quantidade de dados que viaja através da rede todos os dias. O Extreme Tech argumenta que o total de dados diários em 2012 foi de meio exabyte. Dados da gigante Cisco, empresa que fornece equipamento para network, indicam que o número foi de 1,4 exabytes. No mínimo, o tráfego de pornografia é parte de um todo muito maior.


Há razões também para questionar sua estimativa de tráfego. O Extreme Tech disse que o site usado como exemplo recebeu 100 milhões de visitantes por dia.


No entanto, a BBC foi informada de um total de visitantes diários muito menor para esse site e muitos outros, todos supervisionados pela empresa Manwin, que hospeda sites pronográficos.


Em todos os seus sites, a Manwin disse ter cerca de 70 milhões de visitantes por dia. Este número também pode ser inflado, porque, como outros estudos têm mostrado, sites pornográficos são construídos para serem geradores de clique. Cada clique do mouse sobre um vídeo ou foto pode gerar muitos outros cliques, já que um espectador é redirecionado para sites afiliados, anúncios ou pop-ups.


Assim, o número de visitantes desses sites e, consequentemente, a quantidade de tráfego que eles geram, é provavelmente muito menor. Um colaborador do blog Ministry of Truth (Ministério da Verdade, em tradução livre) chegou a uma conclusão muito semelhante quando analisou a estatística de 30%, e muitas outras, em uma série de posts. Ele concluiu que pornografia corresponde a alguns pontos percentuais do tráfego geral e é ofuscado pelo YouTube e pelas grandes redes sociais.


O blog Ministry of Truth descreveu fatos e números sobre pornografia online como "estatísticas zumbis", porque, como os mortos-vivos, você tenta matá-los, mas eles não morrem.


Poucas pessoas tiveram tempo para checar a fonte das estatísticas, disse um blogueiro, o que explica por que as pessoas continuam a citar números que datam dos tempos anteriores à existência da internet ou provenientes de materiais de marketing, e pequenas pesquisas não representativas.
A proveniência duvidosa de estatísticas sobre pornografia são bem conhecidas dentro da indústria de tecnologia.


"Estamos conscientes de que uma série de estatísticas está sendo utilizada em relação à segurança na internet, e ficamos preocupados com sua precisão", disse Nicholas Lansman, secretário-geral do ISPA, que representa as empresas de fornecimento de rede. Qualquer pessoa que cite essas estatísticas deve verificar a sua veracidade, disse ele.


"É vital que todas as decisões em relação a segurança na internet sejam baseadas em evidências, em vez de mitos e afirmações", acrescentou Lansman.

"Vale a pena lembrar que, mesmo se houver muito menos pornografia na internet do que muitas pessoas afirmam, ainda há muito por aí", disse o Dr. Ogas. "Quando quatorze por cento das buscas e 4% dos sites são dedicados ao sexo, temos que parar e refletir sobre isso."


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