O ex-presidente do Banestado Reinhold Stephanes disse ontem discordar da afirmação feita por políticos da oposição, ex-diretores e sindicalistas de que a venda do banco para o Itaú foi um negócio que só trouxe benefícios para os novos donos. Ele lembrou que a privatização ocorreu por exigência do Banco Central e afirmou que o saneamento, que deixou uma dívida de R$ 5,8 bilhões para o Estado, foi necessário devido aos desmandos políticos advindos de mais de 12 anos de má administração.
"Houve pequenos períodos de exceção de má administração, ineficiência de aplicação de recursos, desvio e corrupção", enfatizou. Stephanes foi o responsável por comandar o período de saneamento do banco, atuando quase como um "interventor branco". Ao assumir a presidência do Banestado no início de 1999, ele teve a missão de colocar a casa em ordem e acabar com o apadrinhamento político que havia dentro da instituição financeira.
Segundo Stephanes, o Banco Central não deu opções ao governo paranaense. "Para receber o empréstimo destinado ao saneamento financeiro, o Banestado teria de ser vendido. Caso contrário ele seria liquidado por absoluta falta de condições, o que seria uma atitude inconsequente por todas as suas implicações", ressaltou.
O ex-presidente do banco faz uma crítica quanto à maneira como o governo do Estado encarou os problemas oriundos do Banestado. "Há de se considerar a falta de decisão quando a crise financeira se tornou aparente. Caso a decisão correta tivesse sido tomada, pelo menos dois ou três anos antes, ou seja, por volta de 1995 e 96, o prejuízo teria sido quase a metade", afirmou. Stephanes disse ainda que uma boa e continuada administração, com pequeno aporte de recursos a partir de 95, teria saneado o banco. Na época em que foi alertado para a necessidade de vender o Banestado, o governador Jaime Lerner relutou e adiou o problema.
Stephanes avalia que o prejuízo do Banestado reside no atraso da privatização e na má gestão ocorrida ao longo dos anos e não na venda do banco ao Itaú por R$ 1,6 bilhão. "A venda foi considerada por todos os especialistas em mercado financeiro como excelente, embora haja em contrário a esta opinião muitas meias-verdades."
Ele ressaltou ainda que o prejuízo poderia ser menor, caso o Estado não "fosse ineficiente ou até mesmo omisso" na cobrança dos devedores do Banestado. A dívida é de quase R$ 1,8 bilhão, sendo que o Banco de Fomento está tentando cobrar R$ 1,1 bilhão. O restante está com a Procuradoria Geral do Estado.
Reinhold Stephanes critica também as pessoas que acusam o Estado de ter "varrido para baixo do tapete" os escândalos de desvio de dinheiro no banco, declaração dada à Folha pelo ex-presidente do Banestado, Luis Antonio Fayet. Reinhold Stephanes disse que o Banco Central intimou 75 ex-administradores em processos administrativos, abrangendo um período de 12 anos.
A investigação continua em andamento. "Os principais desvios financeiros estão sendo tratados pelo Ministério Público que tem feito trabalho extraordinário. Cabe às instituições competentes tratar das irregularidades", afirmou.