A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) vai sugerir ao governo federal o tabelamento das margens de lucro do setor de lácteos no varejo. A sugestão tem como base as conclusões extraídas das comissões parlamentares de inquérito (CPIs), instauradas nos estados de Minas Gerais, Goiás e Santa Catarina, que detectaram margens na comercialização do leite longa vida, que variam de 20% a 46%. No período de tabelamento, o máximo permitido era de 10%, informou Paulo Roberto Bernardes, presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da CNA.
Bernardes esteve em Curitiba, participando de reunião com produtores de leite de cinco estados brasileiros (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Minas Gerais), que discutiram a crise instalada no segmento leiteiro. De acordo com levantamento da Associação Paranaense de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa (APCBRH), o preço do leite caiu 30% nas últimas semanas e o produtor está entregando o leite com prejuízo.
Segundo Bernardes, "a CNA vai bancar uma briga com os supermercados, por abuso de poder econômico". Os produtores atribuem ao varejo e às grandes indústrias de laticínios, a adoção de manobras que resultaram na derrubada do preço do leite. Bernardes destacou que as margens de lucro dos supermercados na venda de queijos são mais "escandalosas" ainda. Enquanto o queijo mussarela é comercializado entre R$ 3 a R$ 3,50 o quilo nos atacadistas, nos supermercados o preço está por volta de R$ 8 o quilo. "As margens variam de 80% a 200%."
Para Bernardes, se as margens dos preços do leite e queijos fossem menores, em torno de 30%, não haveria mais produtos no mercado porque os consumidores estariam comprando.
Os produtores estão revoltados com a crise no setor leiteiro. O produtor Louis Baudraz, de Rolândia, Norte do Estado, não sabe mais o que fazer para evitar os prejuízos na propriedade. Este ano, o preço máximo que recebeu foi R$ 0,42 o litro no mês de junho, auge da entressafra, quando no ano passado recebeu R$ 0,50 o litro no mesmo mês. O maior drama apontado pelo produtor é a impossibilidade de planejar a produção porque não sabe quanto vai receber pela entrega no mês. Baudraz recebeu R$ 0,33 o litro em agosto e não sabe quanto vai receber em setembro. O custo médio de produção do leite no Paraná é de R$ 0,33 o litro.
O presidente da Cativa, cooperativa agropecuária de Londrina, Adir Sala, defendeu a isenção de ICMS do setor leiteiro no Estado. Segundo ele, os estados do RS, SC e SP já dão essa isenção e o Paraná precisa acompanhar os demais estados produtores.