Com a ampliação da área livre de febre aftosa com vacinação, a expectativa agora é que o Ministério da Agricultura suspenda as barreiras sanitárias estabelecidas ao longo das fronteiras entre os estados. Os frigoríficos do Paraná e São Paulo estão aguardando com ansiedade a suspensão das barreiras sanitárias que impedem o livre trânsito de animais e produtos oriundos do Mato Grosso do Sul, estado que tem um rebanho de 23 milhões de cabeças de bovinos e lidera a produção de boi no País.
A expectativa é que a liberação das barreiras sanitárias aconteça até o dia 22 de janeiro, quando a comissão técnica da Organização Internacional de Epizootias (OIE), deverá avaliar o relatório sobre a ampliação das áreas livres de febre aftosa enviado pelo Ministério da Agricultura. Antes disso, porém, o jogo de pressão no mercado de boi promete ficar acirrado.
A situação é de apreensão, disse o presidente do Sindicato da Indústria da Carne do Paraná (Sindicarnes-PR), Péricles Salazar. Ele denunciou a existência de uma pressão por parte do Sindicato do Frio de Mato Grosso do Sul para que o Ministério da Agricultura prorrogue a suspensão das barreiras sanitárias. O interesse dos frigoríficos do MS seria manter os preços do boi gordo em baixa naquele estado, para que eles possam manter uma boa margem de lucro quando revendem a carne sem osso para São Paulo, que é o maior mercado consumidor.
Com isso, o Paraná também sai prejudicado porque os frigoríficos paranaenses ainda estão impedidos de comprar animais vivos e produtos naquele stado. "Os frigoríficos do MS estão tentando garantir uma reserva de mercado, que não tem mais razão de existir depois que o Ministério declara aquele estado livre de febre aftosa com vacinação", disse Salazar.
Há dois anos, quando o governo federal determinou o fechamento das barreiras sanitárias entre Mato Grosso do Sul e São Paulo e Mato Grosso do Sul e Paraná, a diferença no preço do boi gordo era de 5%. Em janeiro de 2001, essa diferença está em 17%, portanto é extremamente significativa, o que justifica esse jogo de pressão. Enquanto no Mato Grosso do Sul, a arroba do boi gordo está em R$ 36,00, no Paraná o boi gordo está cotado em R$ 39,00 a arroba e R$ 40,00 em São Paulo.
A partir do momento, que ocorrer a liberação das fronteiras, os frigoríficos paulistas e paranaenses vão comprar matéria prima no MS e a tendência é reduzir a diferença de preços, restabelecendo a competitividade entre os frigoríficos dos três estados, esclareceu Salazar. Para se ter uma idéia, das 4,6 milhões de cabeças produzidas por ano no MS, cerca de 1,2 milhão são enviadas para serem abatidas em São Paulo, o que reduziria o mercado dos frigoríficos do MS.
Embora não admita de forma oficial, a Federação da Agricultura do Mato Grosso do Sul (Farsul) já iniciou uma contrapressão dos pecuaristas junto ao Ministério da Agricultura. Os produtores argumentam que foram parceiros do governo federal no trabalho de erradicação da febre aftosa, ajudaram com recursos a conquistar o status sanitário e agora querem ser beneficiados com a conquista do mercado externo e do interno também. "Não é só o mercado externo que interessa a nós pecuaristas, mas também o mercado interno e sem dúvida São Paulo é o maior deles", disse o presidente da Farsul, Leôncio de Souza Brito Filho.
Além da disputa de mercado, Brito destacou que o Mato Grosso do Sul está com estoque excedente de animais prontos para o abate e não tem mais pasto nem para alugar, enquanto que em outros estados os pastos estão vazios. Se a liberação das fronteiras ocorresse hoje, imediatamente sairiam 100 mil animais para o abate ou engorda em outros estados, afirmou. A Folha tentou ouvir o Sindicato do Frio do Mato Grosso do Sul, mas o contato telefônico não foi retornado.