Quase dez anos depois do nascimento do primeiro animal clonado brasileiro - a bezerra da raça simental Vitória nasceu em março de 2001 -, pesquisadores estudam, agora, a viabilidade da produção de clones bovinos em série. O objetivo dessas "fábricas de clones" é intensificar o acompanhamento de animais clonados, aperfeiçoar os métodos e tornar a técnica mais eficiente.
A clonagem animal já é feita no Brasil, mas as altas taxas de mortalidade dificultam as pesquisas, segundo o professor da Universidade Norte do Paraná (Unopar), Paulo Roberto Adona. "É comum haver perdas de animais clonados antes do nascimento ou no parto", explica o professor.
Adona coordena o projeto de produção de clones em série da Unopar, conduzido em parceria com a Universidade Federal do Pará (UFPA) e Universidade de São Paulo (USP). O projeto recebeu R$ 2,5 milhões em investimentos e, em Tamarana, na Fazenda Experimental da Unopar, foi instalada uma "fábrica", com laboratórios superequipados - há um só para a produção de embriões -, hospital veterinário e uma UTI Neonatal - o período crítico está nas primeiras 36 horas de vida dos bezerros clonados.
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"Estamos conseguindo obter altas taxas de prenhezes (vacas prenhas) e de nascimentos", diz Adona. "Já se constatou que a principal causa da morte prematura de um clone não é imunodeficiência, como se acreditava, mas a infecção no umbigo. Este é só um exemplo de como a pesquisa pode avançar na área de clonagem."
As clonagens na "fábrica" de Tamarana começaram em setembro de 2009 e o primeiro animal a ter uma "cópia" foi a vaca da raça brangus Canjica. De 25 transferências de embriões clonados, sete resultaram em gestações. Dessas gestações, houve quatro nascimentos, mas apenas um clone continua vivo. Depois os pesquisadores clonaram o touro Irã, da raça girolando. Os primeiros quatro clones nasceram no fim de agosto e, em setembro, nasceram mais nove. De 13 clones, sobreviveram quatro.
"A clonagem precisa de muito mais estudos, mas temos conseguido resultados interessantes", diz o pesquisador da UFPA, Moysés dos Santos Miranda, idealizador do projeto junto com o professor Otávio Ohashi, também da UFPA. "Essas taxas de sobrevivência indicam um aumento de eficiência da técnica", afirma. Segundo ele, a grande dificuldade do processo de clonagem é a reprogramação do genoma. "É um procedimento super complexo e muitos embriões acabam não se desenvolvendo."
O procedimento da clonagem começa com a retirada de uma célula da pele de um animal adulto. Essa célula é colocada em um óvulo, cujo material genético foi removido previamente. O óvulo é induzido a se desenvolver, gerando um embrião contendo toda a informação genética da célula da pele que foi utilizada. Transferido para o interior de receptoras (barrigas de aluguel), o embrião dá origem ao animal clonado. "O material genético do novo embrião pertence à célula que foi retirada do animal original. De uma célula da pele, obtém-se um embrião", resume Miranda, acrescentando que o sucesso da clonagem mede-se pelos números. "O número de animais vivos é o que importa.
Automaticamente, já se considera que esses animais são idênticos ao animal original", explica Miranda.
Clone zebuíno foi registrado há um ano
A fêmea da raça nelore Divisa Mata Velha TN 1 ficou conhecida como o primeiro clone zebuíno a ser registrado pela Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ). A fêmea foi registrada aos 3 meses de idade, em 1.º de dezembro de 2009, em Uberaba (MG).
Uma das exigências para a concessão do registro é que o doador nuclear seja portador de registro genealógico de nascimento ou definitivo. O registro ocorreu seis meses depois que o Ministério da Agricultura anunciou a homologação da inscrição de zebuínos oriundos de transferência nuclear (clones) no Serviço de Registro Genealógico das Raças Zebuínas (SRGRZ). "Com o registro genealógico, o clone passou a ter valor comercial" diz o pesquisador Rodolfo Rumpf, da Embrapa.