Pecuaristas brasileiros pedem que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) interfira na rotulagem dos produtos derivados de leite. Segundo representantes da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), a falta de informação na embalagem de alguns alimentos tem levado consumidores a comprar bebidas lácteas (que contém soro de leite na composição) pensando que se trata de leite integral.
Nesta segunda-feira, integrantes da comissão técnica da pecuária de leite da CNA entregaram ao secretário de defesa agropecuária do MAPA, Maçao Tadano, um documento pedindo a interferência do governo na rotulagem dos chamados leites modificados.
De acordo com Rodrigo Alvim, presidente da comissão, produtos não integrais compostos por leite, soro de leite e polpa de frutas, por exemplo, contém as palavras ''longa vida'' na embalagem porque passaram pelo processo de UHT. ''Isso gera confusão entre os consumidores'', disse, lembrando que esses produtos ocupam as mesmas gôndolas do leite nos supermercados.
Como as bebidas lácteas são até 30% mais baratas, muita gente acaba dando preferência a esses produtos sem saber que não se trata de leite integral. ''É concorrência desleal'', comentou.
A iniciativa da CNA foi aprovada pela Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Leite Brasil). ''O consumidor tem que ser informado sobre o que está comprando'', afirmou Jorge Rubez, presidente da entidade. Ele defende que as palavras ''bebida láctea'' tenham, no rótulo, o mesmo tamanho da sigla ''UHT'', que identifica produtos longa vida. ''Todo e qualquer produto que possa levar o consumidor ao equívoco deve trazer esclarecimentos no rótulo''.
Rubez observou que o problema se torna mais preocupante diante do baixo consumo de leite pelos brasileiros. Enquanto a Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza que cada pessoa tome 180 litros de leite por ano, a população do Brasil tem um consumo per capita de 100 litros. ''O povo já toma pouco leite. A situação fica pior quando as pessoas tomam, enganadas, um produto que não é leite'', criticou.
O presidente da Leite Brasil também esclareceu que 90% do leite consumido no País é do tipo C. Dessa matéria-prima, derivam os leites longa-vida, em pó, queijos, iogurtes e outros laticínios. Outras categorias disponíveis são os leites A e B, que possuem menos bactérias.
A legislação atual permite que o leite C contenha até 1,5 milhões de colônias de bactérias por milímetros cúbicos. No caso do leite B, esse limite cai para 500 mil colônias. O índice se mantém para o leite A, que difere do tipo B porque precisa ser envasado na própria propriedade, o que inibe ainda mais a contaminação. Os produtores de leite A e B devem, ainda, manter um veterinário responsável na propriedade para fazer todos os exames de zoonose no rebanho.
Rubez informou que nos próximos cinco anos o limite de colônias de bactérias no leite C cairá para 700 mil por milímetro cúbico, de acordo com novas regras de produção. Também neste período a classficação C deixará de existir. ''O produto será chamado apenas de leite''.