O presidente da Comissão Pastoral da Terra, Dom Thomás Balduíno, afirma que mais de 70 agricultores foram assassinados no campo em 2003. O alerta foi feito na última terça-feira, na Câmara, em depoimento à CPI que investiga a ação de grupos de extermínio no Nordeste.
Dom Thomás entregou aos parlamentares relatórios elaborados pela Pastoral da Terra com números relacionados à violência praticada contra trabalhadores rurais nos estados da Paraíba e Pernambuco. De acordo com ele, os relatórios provam que usineiros de Pernambuco estão financiando milícias armadas responsáveis por ações criminosas contra agricultores sem-terra no estado.
Entre os destaques do relatório está a desocupação do engenho Prado, na divisa com a Paraíba, em março deste ano, quando, segundo o religioso, mais de 400 policiais que cumpriam um mandado de reintegração de posse espancaram mulheres e crianças, destruíram barracos, incendiaram lavouras de subsistência e prenderam diversos agricultores.
"As pessoas estão sofrendo as conseqüências de despejos violentos, que não poupam ninguém. Além disso, convivem com pistoleiros que atuam livremente ou como colaboradores para semear o pânico, forçando o pessoal a deixar a terra e ir embora", disse.
O presidente da Pastoral da Terra prometeu encaminhar à comissão, ainda nesta semana, um terceiro relatório com nomes de pessoas "influentes" da política e do Judiciário, não só da região Nordeste, com indícios de envolvimento ou participação direta em milícias armadas ou grupos de extermínio ligados à conflitos agrários.
Dom Thomás atribuiu o elevado número de assassinatos no campo à falta de uma política séria de reforma agrária. Para ele, o novo Plano Nacional de Reforma Agrária, lançado há duas semanas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pode significar uma mudança na realidade de milhares de pequenos agricultores, e reduzir a violência no meio rural.
Além de Dom Thomás Balduíno, a CPI do Extermínio no Nordeste ouviu também o delegado titular da delegacia de homicídios da grande Recife, Roberto Geraldo Pereira. Segundo ele, apesar de todo esforço dos agentes, só com a criação de uma rede unificada de informações e a capacitação dos policiais será possível recuperar a imagem da corporação junto à sociedade civil.
De acordo com o policial, muitas vezes o criminoso chega a ser detido em investigações paralelas e é liberado logo em seguida por falta de provas - enquanto, simultaneamente, está sendo procurado pela delegacia do bairro ao lado por vários homicídios.
Pereira coordena um núcleo especializado em repressão e investigação de crimes de extermínio e de chacinas. Nesta quarta-feira, a CPI do Extermínio no Nordeste ouve o secretário de Segurança Pública de Sergipe, Luiz Antônio Araújo Mendonça.