O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse hoje em Seul que os gastos correntes do governo e os juros vão cair em 2011. No caso do gasto, o ministro ressalvou que não estava falando em termos absolutos, mas sim de medidas como ritmo de crescimento e proporção em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). Ele chegou ontem à capital da Coreia para participar da cúpula do G-20 - grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo.
Depois de ter viajado mais de 20 horas de avião até Seul com Dilma Rousseff, a presidente eleita, Mantega nada disse sobre uma possível permanência no cargo, mas falou sobre os planos econômicos para 2011 com a desenvoltura de quem está plenamente engajado na preparação do novo governo. "Vai haver uma redução de gastos em 2011, já que saímos do pós-crise e entramos numa nova fase em que a economia não precisa dos mesmos estímulos e o setor privado pode cumprir essa função", disse o ministro. Segundo Mantega, "em crise o Estado demanda mais, e quando se sai da crise o setor privado demanda mais - é essa troca que se pretende fazer".
Isso inclui, acrescentou Mantega, diminuir a liberação de crédito pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), reduzindo os subsídios gastos nessas linhas. Mantega disse ainda que o recuo do gasto corrente vai abrir espaço para ampliar o investimento e reduzir a atração de capitais em excesso - um dos problemas mais discutidos na cúpula do G-20 em Seul.
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A contenção de gastos, continuou o ministro, é um dos fatores que abrirá espaço para a queda dos juros. "Imediatamente não dá para baixar os juros, porque tem uma dinâmica própria da política monetária, mas certamente o juro brasileiro deverá ser reduzido já no próximo ano", afirmou.
Inflação
Para o ministro da Fazenda, não existe pressão de demanda na economia brasileira. "Não tem nada a ver com consumo, não é a demanda que está gerando isso. A inflação está aumentando nesse momento pela mesma razão pela qual aumentou no início do ano e depois caiu: por causa das commodities e dos alimentos", completou o ministro.
Ele frisou que "o governo não descuida da inflação e o próximo governo certamente não descuidará." "A inflação sempre é uma questão de honra e uma questão fundamental para manter a solidez da economia brasileira", completou. Mas como prevê que a inflação não vai subir, Mantega acha que "as condições estão dadas para a redução da taxa de juros".
Defendendo a sua gestão desde maio de 2006, Mantega afirmou que cumpriu regularmente o superávit primário (economia para o pagamento dos juros da dívida pública) e que 2009 e 2010 - quando o resultado fiscal piorou - "foram dois anos atípicos de enfrentamento da crise, quando acabamos aumentando o gasto do governo".
O ministro lembrou que Dilma tem dito que quer trabalhar com juros menores no futuro e que se comprometeu, até 2014, a fazer superávits primários de 3,3% do PIB, além de reduzir a relação entre dívida e PIB de 41% para menos de 30% e chegar ao superávit fiscal nominal (que inclui o pagamento de juros).
Questionado sobre até que ponto esse plano fiscal de prazo mais longo não seria rudimentar - palavra empregada por Dilma há cinco anos para classificar proposta parecida do ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo -, Mantega disse desconhecer a alusão. Mas afirmou que o atual plano "é sofisticado e diferente de tudo que havia lá atrás, porque combina crescimento, programas sociais e austeridade fiscal".