Há três anos, desde que problemas como o vírus da "vaca louca" e a contaminação de aves com dioxina começaram a aparecer na Europa, países como o Brasil - onde a produção de transgênicos é proibida - viram a demanda externa por seus produtos agropecuários saltar em até 300%, dependendo da mercadoria. Além do incremento na exportação da carne, o crescimento pôde ser sentido em itens que, indiretamemente, também são responsáveis pela qualidade final da carne.
É o caso da soja, principal componente para a fabricação de ração animal. Só para a França, o Brasil exporta 37 milhões de toneladas de soja por ano, o correspondente a 70% das 54 milhões toneladas importadas anualmente por aquele País.
E a intenção é aumentar ainda mais esta relação comercial. Para isso, diretores e técnicos de cooperativas da cidade de Mans, na França, estiveram em Curitiba, discutindo com representantes do setor do Paraná possíveis acordos de cooperação para desenvolvimento de cadeias agroalimentares. Os principais interesses dos franceses são justamente contatos com fornecedores de soja não transgênica, além de conhecer as condições de produção e certificação dos alimentos exportados pelo Paraná.
"Nosso objetivo é criar uma relação de parceria e formar um clube de fornecedores brasileiros, a exemplo do clube de consumidores alemães e franceses que já existe na Europa", explica François Bettinger, mestre em Administração de Negócios e diretor da Sociedade Serco (entidade que coordena os clubes de produtores de ração animal). Segundo ele, a França tem cinco cooperativas que produzem 1,8 milhões de toneladas de ração.
Outra preocupação dos franceses refere-se à qualidade do produto. Segundo o engenheiro agrônomo Paul Coulon, vice-presidente da União de Cooperativas de Mans - que tem 3,6 mil associados - "cada vez mais os clientes, frigoríficos e consumidores querem saber a origem do produto, o nome do fazendeiro, a região de onde veio".
Neste ponto, o Paraná ainda tem muito a caminhar. Com a exportação de 8,5 mil toneladas de soja este ano, o Estado é o segundo em vendas, só perdendo para o Mato Grosso. O problema é que só a Cooperativa Agrícola de Campo Mourão (Coamo) trabalha com os princípios de qualidade e rastreabilidade exigidos pelo mercado europeu. Por isso, é a única que já fornece o produto para o clube de consumidores alemães e holandeses.
Com estas exigências o Brasil ganhou espaço antes ocupado pela Argentina. Há três anos, a cada três navios argentinos que desembarcavam no porto de Roterdan, na Holanda, chegavam dois brasilerios. Hoje, são três brasileiros para cada dois argentinos. "O problema é que o preço da soja do Brasil está ficando muito cara e o país não está se dando conta", alerta Bettinger. Nestes mesmos três anos, a soja brasileira custava US$ 16 a mais do que a argentina e hoje custa US$ 22 a mais.
O presidente da Organização das Cooperativa do Paraná (Ocepar), João Paulo Koslovski, no entanto, acha que o mercado brasileiro deve seguir a tendência internacional e também desenvolver transgênicos. "Quem vai definir esta questão é o produtor e o consumidor e já existem pesquisas feitas na França, inclusive, que mostram que o consumidor vai comprar os transgênicos se estes forem mais baratos", diz.