Rural

Fila de caminhões diminui

11 abr 2001 às 12:09

Diminuiu ontem de 120 quilômetros para 90 quilômetros a fila de caminhoneiros que vão desembarcar grãos no Porto de Paranaguá, no litoral do estado. A redução de veículos no acostamento da BR-277 (que liga a Capital ao porto) aconteceu em função de uma ação conjunta entre a Polícia Rodoviária Federal, Administração do Porto de Paranaguá e representantes de terminais.

Porém, este trabalho foi confuso. Os caminhoneiros não sabiam direito como ia funcionar o processo. E a polícia teve agir para evitar que algumas pessoas furassem a fila. Já os terminais não comunicavam corretamente para policiais, quantos veículos poderiam descer para abastecer os silos.


Pelo acordo, os caminhoneiros de terminais privados ou de cooperativas, fora do porto, não precisavam ficar na fila para desembarcar. Pela manhã, a Polícia Rodoviária liberou alguns caminhões, mas a falta de informação fez com que alguns motoristas também saíssem da fila e tentassem desembarcar. Por causa disso, alguns caminhoneiros foram obrigados a voltar para o fim da fila e um caminhoneiro foi detido, mas liberado em seguida.


Enquanto a polícia detinha quem tentava furar fila, outros caminhoneiros que teriam permissão para descer eram barrados, porque havia desencontros nas informações entre os terminais privados com a Polícia Rodoviária. "Vai ser preciso afinar o processo", disse o presidente dos Sincadato dos Caminhoneiros Autônomos do Paraná, Diumar Bueno. Hoje, uma nova reunião está marcada às 10 horas na Secretaria de Transportes.


"É preciso reavaliar a diária e a velocidade de carregamento", disse o caminhoneiro Jeferson Tomadon. Na média, cada motorista ganha, após 24 horas de espera, R$ 0,25 centavos por tonelagem/hora. " Mas com tantos dias de espera, a genta acaba gastando este dinheiro", disse o Hamilton Padilha.


Além do problema da tarifa, a falta de segurança é outro medo dos caminhoneiros. "A malandragem está presente em todas as partes", disse Edno Oliveira. Ontem, policiais militares faziam ronda nas regiões onde estavam os caminhoneiros.


Outra queixa dos caminhoneiros é a falta de banheiros. "A gente toma banho na estrada e acaba tendo que usar o acostamento de banheiro", queixou-se Edson Galvão. Todo o acostamento da BR-277 está cheio de resto de comida, grãos de sojas e milhos, amontoados com lixo.


Oportunidade


Muita gente aproveitou para ganhar dinheiro com a grande fila de caminhões formada entre Paranaguá e Curitiba. Diversos vendedores ambulantes ofereciam lanches, bebidas e marmitas para os caminhoneiros, enquanto eles esperavam autorizam da Polícia Rodoviária Federal para andar.


"A gente está sem emprego e aproveita para ganhar alguns trocados", disse o porteiro Corivaldo Alves de Souza. Desempregado há quase um ano, ele informou que viu na fila uma oportunidade para ganhar dinheiro. "Com minha família preparei sanduíches, sucos e café para ofecerer aos caminhoneiros", afirmou.


Souza acrescentou que, mesmo gastando dinheiro com passagem de ônibus, está faturando bem com os motoristas, vendendo um sanduíche a R$ 1,00 e cada sucos e cafés a R$ 0,50. Outra pessoa que está faturando com os caminhoneiros é o vendedor de cocada e bolos, Reinaldo Santos. "Vendia nas esquinas do Jardim Botânico (bairro de Curitiba), mas aqui ganho mais", afirmou.


Mas o caminhoneiros estão reclamando da qualidade dos produtos vendidos. "Tem alguns vendedores que estão vendendo comida estragada", disse o caminhoneiro João Roberto dos Santos. "Têm algumas pessoas que comercializam resto de comida requentada, por isso precisa de uma fiscalização" afirmou.


Passatempo


Jogar cartas, escutar música, ver televisão ou falar via rádio PX (faixa de rádio-amadorismo) são algumas atividades que os caminhoneiros realizam para ocupar seus dias enquanto esperam a fila andar. "Tem que ter muita paciência para não ficar irritado com tanta demora", afirmou o motorista Hamilton Padilha.


De acordo com estimativa da Polícia Rodoviária são mais de 3 mil caminhoneiros esperando para desembarcar. "Estou vindo de Orlândia, que fica perto de Ribeirão Preto (São Paulo) para descarregar. Depois de 18 horas de viagem, o que mais incomoda é ficar esperando para poder andar", contou o motorista José Pascoal. Para passar o tempo, ele conversa com outros caminhoneiros.


"No bate-papo se fala de tudo, mas principalmente da demora em desembarcar", José Paulo Augusto. Enquanto conversam, eles tentam encontrar uma solução para enfrentar a fila. "Se vierem conversar com a gente, temos bastante idéias", afirmou Jeferson Tomadon.


Tomadon contou que para não se aborrecer com essas conversas, procura escutar música. "A gente liga o rádio e fica ouvido até cansar. Depois faz o mesmo com a televisão. Para no final, abrir uma conversa pelo PX com outros caminhoneiros", disse.


Outro passatempo é jogar cartas. Depois de retirar, os banquinhos dos caminhões, eles montam uma pequena mesa para jogar truco ou até para beber chimarrão. Têm aqueles que aproveitam para revisar os caminhões, consertando o que estiver quebrado.

"Mas tem hora que fica tudo chato, então é melhor trancar o caminhão e tirar um cochilo", afirmou o motorista Edson Galvão. "A gente dorme, mas não profundamente. Se não ficar atento, pode até perder o lugar na fila ou acontecer alguma coisa pior", disse. Para acordar os motoristas dorminhocos, a Polícia Rodoviária ligaa sirene das viaturas avisando que podem andar mais alguns metros.


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