As agroindústrias de aves e suínos chegam ao final do ano com o fantasma da escassez de milho ameaçando os lucros nas vendas de Natal e Ano Novo. As do setor avícola estão mais preocupadas com a falta de milho, que podem afetar as exportações, do que propriamente com a queda do mercado interno.
Já as agroindústrias do setor de suínos apostam no final do ano como forma de recuperar a defasagem provocada pela alta do principal insumo da atividade, que é o milho.
Para o analista de mercado Paulo Molinari, da Agência Safras e Mercados, de Curitiba, não é só o milho que está com preços elevados em função do aumento da demanda. Os substitutivos do milho, como farelo de soja e derivados do trigo também estão com seus preços dobrados, o que está pressionando os custos de produção de aves e suínos.
O fato é que o preço do milho está subindo toda semana e, certamente, haverá escassez do produto em algumas partes do País, prevê o analista. Segundo ele, os estoques disponíveis até a entrada da próxima safra, em fevereiro, estão muito justos e com o tamanho do País não há como evitar a falta do produto em algumas regiões.
Molinari calcula que o mercado tem cerca de três milhões de toneladas de milho em estoques, que daria para cerca de um mês de consumo. E Conab tem um estoque de 300 mil toneladas, que está sendo direcionado para atender as granjas da região Nordeste do País.
Segundo Molinari, quem sofre mais com a situação são as pequenas e médias empresas que não conseguem comprar o milho no mercado ao preço vigente. Já as grandes indústrias têm estoques para 30 a 45 dias e no curto prazo elas fazem um mix de produtos substitutivos na ração. O analista disse que o insumo continua tendo um impacto grande sobre os dois segmentos industriais, de aves e de suínos, porque os produtores não promoveram o corte de produção como prometeram.
Molinari não acredita que as indústrias vão importar o milho porque o preço do produto importado ainda está elevado em comparação com o produto nacional. Até esta semana, o custo do milho importado colocado na fábrica era de R$ 30,00 a saca, enquanto que no mercado interno pode-se encontrar o produto por cerca de R$ 25,00 a saca.
O presidente do Sindicato das Indústrias de Abatedouros Avícolas (Sindiavipar), Domingos Martins, disse que as indústrias que fazem integração estão cortando a produção como forma de reduzir custos com milho e também na tentativa de elevar os preços do frango no mercado interno. Ao contrário do que diz Molinari, Martins acha que existe um mercado de produtos alternativos como trigo, milheto e sorgo e que os pequenos produtores estão recorrendo a esses produtos para reduzir custos.
Martins disse que o setor está conseguindo cortar a produção e disse que só em outubro deixaram de ser produzidos cerca de 10 milhões de cabeças em todo o País. Para o mês de novembro, o Sindiavipar espera nova redução no alojamento de pintinhos.
Situação confortável - Martins reconhece que as grandes indústrias não estão promovendo cortes de produção porque elas estão exportando bem. Só no mês passado o Paraná conseguiu expandir a exportação acima de 100%. Foram conquistados novos mercados no Oriente e na Ásia e as exportações somaram 245 mil t só no mês de setembro.
O Paraná foi responsável pela exportação de cerca de 100 mil t desse total, disse Martins. Para o mês de outubro, o executivo acredita que esse desempenho deve ter se repetido.
Os suinocultores por sua vez, estão apostando no aumento das vendas no final do ano para recuperar a defasagem nos custos de produção que estão acumulando ao longo do ano. Normalmente as vendas de carne suína ''in natura'' costumam aumentar 30% no final do ano. Com base nesse indicativo os suinocultores independentes e indústrias se preparam para atender a demanda.