O Paraná está sendo castigado por uma longa estiagem há mais de 60 dias. As lavouras se apresentam de várias formas, desde aquelas que ainda nada sofreram até as que apresentam perdas totais. A região Sudoeste, uma das mais castigadas do Estado, está há 90 dias sem chuvas. Segundo o engenheiro agrônomo da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento, Otmar Hubner, estão ocorrendo apenas chuvas esparsas que provocam pouco impacto na reversão das perdas.
Os técnicos da Secretaria da Agricultura já estão em campo fazendo os levantamentos dos prejuízos. Mas as cooperativas já antecipam perdas de 40% a 50% na produção de milho safrinha das regiões Norte e Oeste, que juntas produzem 75% do grão nessa época do ano. Outra preocupação é com o atraso no plantio de trigo. Na região Norte, o prazo recomendado para o plantio vai até o dia 10 de maio e o temor é que a estiagem permaneça até lá, informou Flavio Turra, assessor econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar).
As lavouras com feijão das secas e as pastagens também estão sendo afetadas. O fornecimento de feijão para o mercado pode ficar comprometido, admite Hubner. A produção de leite pode ser reduzida com os prejuízos nas pastagens. Já está havendo negociação para aumentar o preço do leite para o produtor, afirmou o técnico. Ele lembra que estiagem semelhante, generalizada em todas as regiões do Estado, não acontece há pelo menos 10 anos. ‘As estiagens que ocorreram em anos anteriores restringiam-se principalmente às regiões Norte e Noroeste.’
Com a estiagem no Paraná, São Paulo e região Centro-Oeste, a produção de milho safrinha não deverá atingir os 8 milhões de toneladas que estavam sendo esperadas para este período. A previsão é que o consumo total de milho no País, avaliado em 37 milhões de toneladas não será atingido. A perspectiva é de escassez no fornecimento de milho.
Em função desse quadro, os principais agentes de mercado estão de olho no desempenho da safrinha paranaense. Se a quebra das lavouras no Paraná for muito acentuada, certamente o reflexo no mercado será imediato. Isso porque o Paraná é o principal produtor de milho safrinha. A previsão inicial era colher 3,3 milhões de toneladas.
O mercado já está prevendo os prejuízos, mantendo o preço firme em torno de R$ 12,00 a R$ 14,00 a saca no atacado, em pleno período de colheita de safra, analisou Turra. Se os prejuízos forem muito grandes, os preços do milho podem explodir no segundo semestre, já que os estoques do grão estão baixos. Em função disso, tem muito produtor que já está segurando o milho para venda à espera de preços melhores no segundo semestre, destacou o técnico.
O diretor do Departamento de Economia Rural, da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento, Richardson de Souza, lembrou que a preocupação recai também sobre as perdas que certamente ocorrerão com o plantio de trigo e feijão das secas. O plantio de trigo pode ser inviabilizado em algumas localidades e a queda na produtividade de feijão das secas é acentuada. Souza afirmou que muitos produtores estão arriscando a plantar o trigo no pó.
A projeção inicial previa um plantio de 1,1 milhão de hectares com trigo, que não deverá ser concretizada. A preocupação agora é o que fazer com as sementes compradas. Mesmo com o retorno das chuvas, as perdas não deverão ser revertidas, acredita Souza. Ele classificou a situação como grave. O Simepar não prevê chuvas fortes para os próximos dias.
Está prevista uma frente fria para este final de semana, mas é provável que não atinja as regiões Norte e Noroeste do Estado. Segundo o meteorologista Tarcísio Valentim da Costa, as frentes frias estão se deslocando para o oceano com muita facilidade, fazendo com que as chuvas permanecem esparsas e isoladas.