Rural

Cafeicultores fazem recepa por conta própria

01 dez 2000 às 10:00

As geadas ocorridas no Paraná no mês de julho desse ano dizimaram a cafeicultura no estado. O prejuízo aos cafeicultores foi avaliado em R$ 255 milhões e na época chegou a sensibilizar o ministro da Agricultura Marcus Vinicius Pratini de Moraes, que prometeu ajuda. Mas até agora, decorridos quatro meses após a catástrofe, o governo federal ajudou muito pouco. O que fez até agora foi a prorrogação nos financiamentos de custeio. Enquanto isso, os agricultores estão fazendo a recepa (poda drástica) das plantas por conta própria, a um custo de R$ 40,00 por hectare.

As dificuldades começam agora, quando os cafeicultores precisam de recursos para adubar a terra após as podas, mas não estão com acesso a linha de crédito. A previsão da Secretaria da Agricultura do Paraná era que a produção seria de 2,9 milhões de sacas de café beneficiadas. Com as geadas, houve uma quebra de 75% na expectativa de produção e 2,2 milhões de sacas deixarão de ser produzidas no ano que vem. A engenheira agrônoma do Deral está estimando que apenas 40% da área que deveria entrar em produção no ano que vem (148 mil hectares), deverá efetivamente entrar em produção após as podas.


Além do prejuízo econômico, preocupa o prejuízo social. Fala-se em mais de 100 mil pessoas desempregadas no ano que vem. O departamento de Economia Rural da Secretaria da Agricultura (Deral) está fazendo um levantamento minucioso sobre o impacto social da perdas da cafeicultura no estado.


Com isso, a previsão para a safra 2000/2001 é que serão colhidas entre 700 a 750 mil sacas de 60 quilos. Dos 164 mil hectares plantados com café no Paraná, estima-se que 10% já estão estão sendo erradicados, 30% sofrerão recepa, 40% decotes e esqueletamento (podas leves) e 20% vai ter condução normal, ou seja, tratos culturais normais, informou a engenheira agrônoma do Deral, Margorete Demarchi.


A erradicação das plantas só não será maior porque o clima atual, com chuvas regulares, está favorecendo a rebrota das plantas, principalmente na região Noroeste do Estado. Inclusive em lavouras onde seria necessária a recepa, o produtor vem sendo surpreendido com a rebrota, disse a técnica. Por outro lado, observou que os cafeicultores estão aproveitando o "empurrão" da natureza dado com as geadas para acelerar o processo de erradicação de plantas velhas e daquelas que estão plantadas em áreas fora do zoneamento adequado.


O problema agora é pagar as contas. Como não veio ajuda do governo federal o cafeicultor está se virando como pode com recursos próprios. O governo federal permitiu ao Banco do Brasil prorrogar as dívidas que somam aproximadamente R$ 36 milhões no estado. As dívidas de custeio que venceriam em outubro desse ano, para serem quitadas nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2001. E as dívidas de colheita, encerrada no mês passado, foram prorrogadas para os meses de abril, maio e junho de 2001.


Ocorre que a receita da safra 1999/2000 prevista para quitar esses débitos está reduzida. Os cafeicultores estão perdendo 40% da receita em função da queda no preço do café e mais 30% com a perda de safra provocada pela estiagem do ano passado. Na safra atual, o produtor deveria colher de 2,8 milhões de sacas e colheu 2,0 milhões de sacas. Para agravar, o preço do café caiu para R$ 116,00 a saca, enquanto no inicio do ano estava em R$ 184,00 a saca.


O economista da Seretaria da Agricultura, Paulo Franzini, lamenta que pouquíssimos produtores no Paraná poderão acessar os recursos do Funcafé liberados para o café no país no valor de R$ 200 milhões. Esses recursos são direcionados apenas para lavouras não afetadas ou pouco atingidas pelas geadas.


Já os recursos liberados para poda do café também para todo o país, no valor de R$ 70 milhões, atende parcialmente as necessidades dos cafeicultores paranaenses. Isso porque os produtores que pretendem acessar essa linha de crédito têm que ter em mente que a dívida terá que ser paga em 2002. Ocorre que o produtor ainda não terá produção nem receita suficiente para pagar o débito já que o cenário para a cafeicultura paranaense para os próximos dois anos ainda é crítico, avaliou Franzini.

O agrônomo lembra que os recursos que ajudaram a cafeicultura do Paraná até agora foram os R$ 4 milhões liberados pelo governo do estado, através do Programa Paraná 12 Meses. Esses recursos financiaram a produção de aproximadamente 40 milhões de mudas de café. Essa interferência do governo contribuiu para refrear os preços das mudas no mercado, que já saltaram de R$ 130,00 o milheiro para R$ 160,00 após as geadas. Com o financiamento à produção de mudas, o preço está estabilizado em R$ 150,00 o milheiro, o que dá mais condições para o cafeicultor comprar o insumo.


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