A Superintendência do Banco do Brasil suspendeu a execução das terras de três pequenos agricultores de Contenda, Região Metropolitana de Curitiba, que já estavam com data marcada para irem a leilão. A suspensão da execução, porém, não soluciona o problema das dívidas. Os agricultores Vicente Kochinski, Flavio e Floriano Wojcik temem a perda de suas terras para pagamento de uma dívida "impagável", considerando o acúmulo de juros e multas desde 1994, quando ela foi contraída para financiamento de plantio de batatas.
Esse foi o resultado de reunião realizada com a presença do deputado federal Abelardo Lupion (PFL) e do diretor-geral da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento, Norberto Ortigara. Produtores e bancos ficaram de apresentar propostas para uma negociação viável entre as partes. "Da forma como estão contabilizadas as dívidas, os agricultores não têm como pagar", concordou Ortigara.
Os agricultores não ficaram satisfeitos com a suspensão da execução das terras. Segundo o agricultor Iolando Wojcik, o problema foi suspenso mas não resolvido. Eles temem que a Justiça não tenha sido avisada que as execuções seriam suspensas.
O problema de Contenda vem se arrastando desde o início de 1998, quando um grupo de 23 batateiros acamparam em frente ao Palácio Iguaçu, reivindicando ajuda do governador para solução de dívidas contraídas junto ao Banestado e ao Banco do Brasil, na época de instalação do Plano Real. Com os juros e correção monetária cobrados na época, o valor das dívidas ficou acima do patrimônio dos agricultores.
O valor total das dívidas com cada banco ainda será levantado. Mas de acordo com Wojcik, cada agricultor tem em média débitos no valor de R$ 36 mil. Ele pessoalmente tem uma dívida de R$ 50 mil junto ao Banco do Brasil e o valor de suas terras não ultrapassa R$ 35 mil. O problema é que essa pendência impede os agricultores de terem acesso a créditos novos, como os do Programa Nacional da Agricultura Familiar (Pronaf), que foram colocados à diposição dos pequenos agricultores com mais intensidade a partir de 1995.
"Tem famílias que antes trabalhavam de empregado para a gente e que se habilitaram a pegar recursos do Pronaf e hoje estão ganhando dinheiro e têm suas próprias lavouras, enquanto nós perdemos o que tínhamos e hoje só conseguimos plantar para sobrevivência, porque não temos mais crédito", lamentou Wojcik.
A Secretaria da Agricultura e o Banco do Brasil ficaram de levantar o total da dívida dos agricultores junto ao Banestado e o BB. O problema é identificar o capital emprestado na época e o que incide juros e correção monetária, que elevou o valor do débito.
Segundo Ortigara, o problema junto ao Banestado é que o banco vendeu as dívidas para uma empresa de cobrança, a Rio Paraná. "Agora a negociação terá que ser feita junto essa empresa", acredita. Ortigara concorda que se não houver um "corte drástico nessas dívidas, os agricultores não terão como pagar porque não têm mais renda para isso."