Os produtores que não conseguiram antecipar a compra dos insumos estão sentindo na pele os efeitos da variação cambial. Como a maioria dos insumos tem seus preços cotados em dólar, em função da matéria-prima importada, o repasse da desvalorização da moeda é praticamente instantâneo, disse o assessor técnico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Flavio Turra.
Se de um lado, os produtos de exportação, como soja e café, estão sendo beneficiados pela comercialização, de outro lado, os custos de produção já começam a preocupar, avalia Turra. Principalmente para quem planta feijão e milho, produtos comercializados no mercado interno que não remunera pela alta do dólar.
Para uma variação cambial de 30%, que é a diferença que vem ocorrendo desde o início do ano, os custos de produção sobem 17% no plantio de milho, 18% no plantio de soja, 11% no plantio de café e 13,5% no plantio de feijão. Para uma variação de 10%, que é a desvalorização cambial ocorrida este mês, agravada com os atentados terroristas em Nova York, o impacto sobre o custo de produção é de 6% no custo de produção do milho, 6% no custo de produção da soja, 4% no custo de produção do café e 4,5% no custo de produção do feijão.
Só neste mês, o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento constatou aumentos de 2,4% no preço dos adubos, 2,9% no preço da uréia e fertilizantes, 2,1% no preço dos inseticidas, 2,6% no preços dos fungicidas e 1,7% no preço dos herbicidas.
No ano, considerando agosto de 2000 e agosto de 2001, o preço dos adubos teve reajustes que variam de 11,5% a 21%. A uréia teve variação de 7%, os inseticidas tiveram aumento nos preços que variaram de 10% a 20%, no mesmo período. Herbicidas tiveram aumento de preços de até 19%.
Esse aumento no preço dos insumos está preocupando os produtores, que estão plantando a safra 2001/02. Principalmente os pequenos produtores, que não plantam em escala e por isto ficam sempre de olho nos custos de produção, para evitar o rendimento negativo. Já os grandes produtores, que puderam antecipar a compra dos insumos ainda não sentirão o impacto da variação cambial nesta safra. Mas já começam a se preocupar com o plantio do milho safrinha, a partir de janeiro de 2002.
Para o produtor Valdemar Kaiser, de Marechal Cândido Rondon, no Oeste do Paraná, a situação está ficando crítica principalmente para quem vai plantar o milho. Com essa alta no preço dos insumos, o custo de produção já esta acima de R$ 10 a saca, enquanto o produto está cotado a R$ 9 no mercado. "Só quem tiver alta produtividade e escala de plantio vai ganhar dinheiro com o milho", explica.
O produtor Ivo Arnt Filho, que administra um conjunto de propriedades que totaliza 3 mil hectares, em Tibagi, disse que o grande produtor já antecipou as compras de insumos. Por isso, muitas empresas que importaram insumos no primeiro semestre estão mantendo a revenda com dólar fixado em R$ 2,40, para evitar os encalhes de defensivos agrícolas. No caso dos adubos o aumento no preços dos produtos já é de 10% nos últimos dias.
O gerente de vendas da Cooperativa Agrícola Mista Vale do Piqueri (Coopervale), de Palotina, Ademar Luis Pedron, afirma que o reflexo do dólar no preço dos insumos vai influenciar violentamente no aumento do custo de produção do milho safrinha, previsto para o início do ano que vem. "A dúvida é saber se o mercado vai remunerar o milho na mesma proporção em que está ocorrendo a alta dos insumos", pergunta.