O Brasil é hoje o 34º colocado no ranking mundial de produção e consumo de produtos orgânicos. Em apenas sete meses, de janeiro a agosto deste ano, a área destinada ao cultivo de orgânicos dobrou no Paraná, passando de 30 mil para 61 mil hectares. Mas apesar de produtores e consumidores estarem buscando alimentos mais saudáveis, muita gente ainda desconhece o significado do sistema orgânico.
Orgânicos são alimentos produzidos sem a utilização de qualquer produto químico. A agricultura orgânica é um sistema de produção que evita ou exclui amplamente o uso de fertilizantes, agrotóxicos, reguladores de crescimento e aditivos para a produção vegetal e alimentação animal, elaborados sinteticamente. O resultado, são alimentos mais saudáveis.
Da última safra para a atual o volume de vendas praticamente dobrou no Paraná, devendo atingir um montante em torno de R$ 30 milhões na safra 99/2000. O número de produtores certificados passou de 1,2 mil (safra 98/99) para cerca de 2,4 mil produtores (safra 99/00). Com isso, o Paraná tornou-se um dos maiores produtores de orgânicos do Brasil, respondendo por cerca de 40% da produção.
O pesquisador do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) Moacir Darolt, estuda a produção de orgânicos no Estado, mais especificamente na Região Metropolitana de Curitiba. Em sua tese "As dimensões da sustentabilidade: um estudo da agricultura orgânica na Região Metropolitana de Curitiba", apresentada na Universidade de Paris VII e Universidade Federal do Paraná, Darolt dá um panorama do sistema no Estado.
Segundo ele, a agricultura orgânica exige uma mudança de mentalidade de toda a sociedade. "Na agricultura convencional temos uma visão de produto. Na orgânica precisamos ver todo o processo produtivo", destaca.
A mudança, na sua opinião, deveria começar dentro das próprias universidades que ainda hoje priorizam o ensino de técnicas convencionais. "Podemos fazer uma analogia com o uso de remédios. Se encontramos um problema com fungos, aplicamos determinado fungicida, numa quantidade específica e acabamos com o problema, como se déssemos à planta um remédio. No entanto, deixamos de investigar as causas que deram origem ao problema e ainda acabamos criando outros por provocarmos uma alteração, um desequilíbrio no ambiente natural", defende Darolt.
Outro desafio para a agricultura orgânica, detectada pelo pesquisador, é o incentivo à pesquisa. "No próprio Iapar, entre 100 pesquisadores, somente dois ou três estudam esse assunto", destaca. Pela falta de pesquisa, o produtor tem mais dificuldades ao enfrentar o período de conversão da agricultura convencional para a orgânica.
Nesse período, que leva no mínimo dois anos, algumas culturas apresentam uma queda sensível na produtividade e na qualidade, com consequente redução na renda do produtor. "Ele ainda não consegue vender seu produto como orgânico e a aceitação como convencional também reduz por causa da aparência do produto, que deixa de ser uniforme", explica o pesquisador.
Em função disso, Darolt defende uma política de apoio aos produtores durante o período de conversão. "Nos países da Europa os governos incentivam financeiramente a mudança do sistema convencional para o orgânico", conta.
Para que o sistema orgânico tenha sucesso no Brasil, Darolt defende ainda a ampliação do volume de informações para produtores e consumidores; marketing forte e criação de uma logomarca que identifique os produtos como orgânicos, independente do produtor; e finalmente, um plano de desenvolvimento para o setor, estabelecendo metas de crescimento, como já acontece na França e Inglaterra, por exemplo.